Poema Arrependo-me de a Meter num Romance

O poema tem mais pressa que o romance,
Asa de fogo para te levar:
Assim, pois, se houver lama que te lance
Ao corpo quente algum, hei-de chorar.

Deus fez o poeta por que não descanse
No golfo do destino e amores no mar:
Vem um, de onda, cobri-la – e ela que dance!
Vem outro – e faz menção de me enfeitar.

Os outros a conspurcam, mas é minha!
Chicoteá-la vou com a própria espinha,
Estreitam-me de amor seus braços mornos,

Transformo seus gemidos em meus uivos
E torno anéis dos seus cabelos ruivos
Na raspa canelada dos meus cornos.

(2 votes, average: 3,00 out of 5)

Mais poemas:

Romance do Terceiro-Oficial de Finanças Ah! as coisas incríveis que eu te contava assim misturadas com luas e estrelas e a voz vagarosa como o […]...

Romance de uma Freira Indo às Caldas Belisa, aquela beldade, Cujas perfeições são tais, Que a formosura e juízo Vivem nela muito em paz; Aquela Circe das […]...

Do Tempo que Fui Livre me Arrependo O culto divinal se celebrava No templo donde toda criatura Louva o Feitor divino, que a feitura Com seu sagrado […]...

Romance Para as Festas da Agonia Vi-te chegar, como havia Sonhado já que chegasses: Vinha teu vulto tão belo Em teu […]...

Romance de Nós Estou à beira do mar, estou à beira de ti. Ardem no meu olhar os sonhos que não vi. Tudo […]...

Romance Fruto de solidão preso à fronde do vento, lua, tu nos dás a medida do eterno, essa altura que jogas […]...

Desaparecido Sempre que leio nos jornais: “De casa de seus pais desapar’ceu…” Embora sejam outros os sinais, Suponho sempre que sou […]...

Náiades, Vós que os Rios Habitais Náiades, vós que os rios habitais Que os saudosos campos vão regando, De meus olhos vereis estar manando Outros que […]...

Eternidade A minha eternidade neste mundo Sejam vinte anos só, depois da morte! O vento, eles passados, que, enfim, corte A […]...

Paisagens de Inverno I Ó meu coração, torna para trás. Onde vais a correr, desatinado? Meus olhos incendidos que o pecado Queimou! o […]...

Paz Irreprimível natureza exacta medida do sem-fim não atinjas outras distâncias que existem dentro de mim. Que os meus outros rostos […]...

Ela no meu Olhar Os meus olhos são Índias de segredos. É Portugal seu Corpo esguio e brando. E as cinco quinas, seus compridos […]...

Recado aos Amigos Distantes Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem […]...

Decepção à Regra Sentar-me e ver os outros passar é o meu exercício favorito. Entretém. Não esgota. É gratuito. Neste meu jogo-do-não são […]...

Erra a Minha Alma, em Contemplar-vos Tanto S’erra minh’alma, em contemplar-vos tanto, E estes meus olhos tristes, em vos ver, S’erra meu amor grande, em não querer […]...

Estrangeiro Sou estrangeiro em todos os lugares. Inútil procurar-te, aldeia minha. Subo de escada todos os andares, com a fria espada […]...

Cinco Sentidos Cinco sentidos são os cinco dedos Com que o homem tacteia a escuridão, Rodeado de sombras e segredos De que […]...

Na Casa Defronte Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade há sempre! Moram ali pessoas que desconheço, que já […]...

A Vulgar Que Passou Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida, nem para os meus cansaços perfumados de rosas, […]...

Em Defesa da Língua Portuguesa Desta audácia, Senhor, deste descôco Que entre nós, sem limite, vai lavrando, Quem mais sente as terríveis conseqüências É a […]...

Ode Marcial Inúmero rio sem água – só gente e coisa, Pavorosamente sem água! Soam tambores longínquos no meu ouvido E eu […]...

Saudades Trágico-Marítimas Chora no ritmo do meu sangue, o Mar. Na praia, de bruços, fico sonhando, fico-me escutando o que em mim […]...

Quando Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta Continuará o jardim, o céu e o mar, E como hoje […]...

No Seu Tumulo Sobre o seu frio berço sepulcral, Meu espirito resa ajoelhado; E sente-se perfeito e virginal Na sua dôr divina concentrado. […]...

No Fim do Verão No fim do verão as crianças voltam, correm no molhe, correm no vento. Tive medo que não voltassem. Porque as […]...

Teus Olhos Olhos do meu Amor! Infantes loiros Que trazem os meus presos, endoidados! Neles deixei, um dia, os meus tesoiros: Meus […]...

Quadras da Minha Vida Os ecos nos meus sentidos Dos meus afectos doentes São mais longos, mais compridos Do que rastos de serpentes. Nasci […]...

Mas se não Amo, nem Posso Mas se não amo, nem posso, Que pode então isto ser? Coração, se já morreste, Porque te sinto bater? Ai, […]...

Primavera Passei a Primavera de meus anos Com maternais desvelos amorosos. Com meiguices, afagos carinhosos, Com mimos de solícitos afanos. Desenfaixado […]...

Natal Natal, antes e agora imutável. Feliz noite branca sem hora no pátio da Matriz. Natal: os mesmos sinos de repiques […]...