Autor Vitorino Nemésio

O primeiro de Maio de minha Mãe Não era social, mas de favas e giestas. Uma cadeira de pau, flor […]

À minha neta Anica A neta explora-me os dentes, Penteia-me como quem carda. Terra da sua experiência, Meu rosto diverte-a, […]

A tempo entrei no tempo, Sem tempo dele sairei: Homem moderno, Antigo serei. Evito o inferno Contra tempo, eterno À […]

O poema tem mais pressa que o romance, Asa de fogo para te levar: Assim, pois, se houver lama que […]

Já não escreverei romances Nem contos da fada e o rei. Vão-se-me todas as chances De grande escritor. Parei. Mas […]

Teu só sossego aqui contigo ausente Na casa que te veste à justa de paredes, Tenho-te em móveis, nos perfumes, […]

“Seja a terra da Terceira A minha coberta de alma”, Disse eu na idade fagueira, Em que tudo é força […]

A nossa intimidade a três ou quatro é constrangida. Tenho medo no ângor e uma urtiga no pé. Um dia […]

Tenho uma saudade tão braba Da ilha onde já não moro, Que em velho só bebo a baba Do pouco […]

Até no carro te canto, Fala a fala, seio a seio, Espantado de um encanto Que mais parece receio De […]

Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor. […]

Marga, teu busto tufa, Dois gomos e véus de ilhal Palpitam palmo de gente Nesse tefe-tefe igual E há qualquer […]

Possuíram-te nas ervas, Deitada ao comprido Ou lívida a pé: Do estupro conservas O sangue e o gemido Na morte […]

O poema em que te busco é a minha rede, Bem mais de borboletas que de peixes, E é o […]

Ainda terás alento e pedra de canto, Mito de Pégaso, patada de sangue da mentira, Para cantar em sílabas ásperas […]