Poema Lusos Heróis, Cadáveres Cediços
Lusos heróis, cadáveres cediços,
Erguei-vos dentre o pó, sombras honradas,
Surgi, vinde exercer as mãos mirradas
Nestes vis, nestes cães, nestes mestiços.
Vinde salvar destes pardais castiços
As searas de arroz, por vós ganhadas;
Mas ah! Poupai-lhe as filhas delicadas,
Que. Elas culpa não têm, têm mil feitiços.
De pavor ante vós no chão se deite
Tanto fusco rajá, tanto nababo,
E as vossas ordens, trémulo, respeite.
Vão para as várzeas, leve-os o Diabo;
Andem como os avós, sem mais enfeite
Que o langotim, diámetro do rabo.





Mais poemas:
- Insinceridade quis-nos aos dois enlaçados meu amor ao lusco-fusco mas sem saber o que busco: há poentes desolados e o vento […]...
- Corpo de Ambiguidade posso e não posso ir-me noite fora nestes pilares do medo desta dor – é quando os dedos ferem (não […]...
- Tempo Habitual De nojo, o tempo, o nosso, A perfídia estrumando No presumir da carícia branda e sorriso De todos. De raiva […]...
- A Castidade com que Abria as Coxas A castidade com que abria as coxas e reluzia a sua flora brava. Na mansuetude das ovelhas mochas, e tão […]...
- No obscuro desejo no obscuro desejo, no incerto silêncio, nos vagares repetidos, na súbita canção que nasce como a sombra do dia agonizante, […]...
- A Maior Tortura Na vida, para mim, não há deleite. Ando a chorar convulsa noite e dia… E não tenho uma sombra fugidia […]...
- Soneto de Contrição Eu te amo, Maria, eu te amo tanto Que o meu peito me dói como em doença E quanto mais […]...
- Quando Olho para Mim não Me Percebo Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair […]...
- Outrora Outrora alguém olhou com os meus olhos E alguém sentiu também com meus sentidos. Alguém foi Eu em sonhos derruídos, […]...
- Natal cada Natal Quando na mais sublime dor, A mulher dá à luz, Há sempre um Anjo Anunciador A murmurar-lhe ao coração – […]...
- Avarento Puxando um avarento de um pataco Para pagar a tampa de um buraco Que tinha já nas abas do casaco, […]...
- Abat-Jour A lâmpada acesa (Outrem a acendeu) Baixa uma beleza Sobre o chão que é meu. No quarto deserto Salvo o […]...
- Eis-me Eis-me Tendo-me despido de todos os meus mantos Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses Para ficar sozinha ante o […]...
- Rimance Onde é que dói na minha vida, para que eu me sinta tão mal? quem foi que me deixou ferida […]...
- Lembre-vos quão sem Mudança Lembre-vos quão sem mudança, Senhora, é meu querer, perdida toda esperança; e de mim vossa lembrança nunca se pode perder. […]...
- Antre Tremor e Desejo Antre tremor e desejo, Vã espernça e vã dor, Antre amor e desamor, Meu triste coração vejo. Nestes extremos cativo […]...
- Quem aos Olhos Dar-me-á uma Vertente Quem aos olhos dar-me-á uma vertente de lágrimas, que manem noite e dia? Ao menos a alma, enfim, respiraria, chorando, […]...
- Brilha uma Voz na Noute Brilha uma voz na noute De dentro de Fora ouvi-a… Ó Universo, eu sou-te… Oh, o horror da alegria Deste […]...
- Não Voltarás não voltarás olhando as ruas na vidraça nua os zimbros da terra ocre moras secreta nestes barros tua flauta canta […]...
- Amor Aqueles olhos aproximam-se e passam. Perplexos, cheios de funda luz, doces e acerados, dominam-me. Quem os diria tão ousados? Tão […]...
- No Seu Tumulo Sobre o seu frio berço sepulcral, Meu espirito resa ajoelhado; E sente-se perfeito e virginal Na sua dôr divina concentrado. […]...
- Poemas São como Vitrais Pintados Poemas são como vitrais pintados! Se olharmos da praça para a igreja, Tudo é escuro e sombrio; E é assim […]...
- Os Versos, que Cantei Importunado Os versos, que cantei importunado Da mocidade cega a quem seguia, Queimei (como vergonha me pedia) Chorando, por haver tão […]...
- Musa Consolatrix Que a mão do tempo e o hálito dos homens Murchem a flor das ilusões da vida, Musa consoladora, É […]...
- Náiades, Vós que os Rios Habitais Náiades, vós que os rios habitais Que os saudosos campos vão regando, De meus olhos vereis estar manando Outros que […]...
- Sabes, Pai sabes, pai o cachecol bege nos muros da foz cobria as árvores com o seu pêlo, ao vento o boné […]...
- Não Sei para que Vos Quero Não sei para que vos quero, pois me de olhos não servis, olhos a que eu tanto quis! VOLTAS Pera […]...
- Teus Olhos Olhos do meu Amor! Infantes loiros Que trazem os meus presos, endoidados! Neles deixei, um dia, os meus tesoiros: Meus […]...
- Inconstância Procurei o amor que me mentiu. Pedi à Vida mais do que ela dava. Eterna sonhadora edificava Meu castelo de […]...
- Quando? Este falar de mim já me consola. Mas quando direi de mim o quanto que me baste, e tanto que […]...
- Ai, Helena! Ai, Helena!, de amante e de esposo Já o nome te faz suspirar, Já tua alma singela pressente Esse fogo […]...
- Solidão Vago aroma de esteva, ao mesmo tempo ardente e virgem, E este murmúrio doce da folhagem, São o falar do […]...
- Cegueira Bendita Ando perdida nestes sonhos verdes De ter nascido e não saber quem sou, Ando ceguinha a tatear paredes E nem […]...
- Logos Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim E, o que é mais, dentro de mim – […]...
- À Cruz Se em golfo de sereias proceloso, Empenho repetido do cuidado, O sábio grego, ao duro mastro atado, As sereias escapa […]...
- Ironia De tanto pensar na morte Mais de cem vezes morri. De tanto chamar a sorte A sorte chamou-me a si. […]...
- Quem Sabe? Ao Ângelo Queria tanto saber por que sou Eu! Quem me enjeitou neste caminho escuro? Queria tanto saber por que […]...
- Súbdito Ausente e Nulo do Universal Destino Olho os campos, Neera, Campos, campos, e sofro Já o frio da sombra Em que não terei olhos. A caveira […]...
- Estátua Cansei-me de tentar o teu segredo: No teu olhar sem cor, de frio escalpelo, O meu olhar quebrei, a debatê-lo, […]...
- Neblina Um dedo a bordo aponta a neblina sentada, sustentada sobre o topo do monte. O céu está todo azul, com […]...