Poema O Baile
Névoa em surdina
A sombra que acompanha
As finas pernas a dançar na tarde.
Jogo de jovens corpos.
Música de montanha,
Num tempo teu e meu
De eternidade.
E eu, as duas estranhas.
Olha quem toca o ponto
Que há no fim!
Ao fim de mim,
No ponto para que vim.
Ao fim de mim
No ponto donde vim.
Vulto de agulha
Em fumo de água e lenha.
Eu, as duas estranhas.
É sempre pelos outros que falamos.
Eu, as duas estranhas, por mim falam.
Em estradas como ramos
oscilamos. E vamos
Convergentes, dispersas, disparadas
Pêlos tiros de magos inocentes
Do caos ao sol
Em gradações de escadas.
Ouve-se às vezes uma voz: – Presente!
E já no corpo as almas vão trocadas.
Foi em concretos dias de sol-posto,
Em fábricas de fios de uma aranha,
Que se teceram
Em finíssimas teias de desgosto,
(Eu) as duas estranhas.





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