Poema Submissão
1.
no topo desta escada
tem um chefe
que te olha.
na curva desta estrada
tem um dono
que me manda.
2.
mais desço quando subo,
a cada passo,
se me movo
para cima e para baixo,
mais volto quando ando,
a cada passo,
para frente e para os lados,
na curva desta estrada,
se me curvo
sem mais nada.
3.
no caminho em que caminho
cruzo os braços
a cada passo
e, mudo, avanço
no caminho sem recuo
que me leva
nesta escada,
nesta estrada
a cada curva que me curva
tão curvada.
4.
a cada passo,
mais tropeço
se começo
nesta dança
sob o peso
desta canga
que já levo
sobre os ombros;
sobre os ombros
já tão curvos
já tão duros
no silêncio em que me escondo.
5.
a cada passo, em cada curva
só te vejo tão curvado,
que dependo da procura procurada
na ida desta volta,
nesta rota que me enrola
nesta terra, neste piso,
neste sítio,
neste estado de capacho
que me prende
pela frente, pelas costas,
já por dentro e já por fora,
lado a lado
no macio do teu corpo,
no consolo de meu pasto.