Poema Gratidão
A minha gratidão te dá meus versos:
Meus versos, da lisonja não tocados,
Satélites de Amor, Amor seguindo
Co’as asas que lhes pôs benigna Fama,
Qual níveo bando de inocentes pombas,
Os lares vão saudar, propícios lares,
Que em doce recepção me contiveram
Incertos passos da Indigência errante;
Dos olhos vão ser lidos, que apiedara
A catástrofe acerba de meus dias,
Dos infortúnios meus o quadro triste;
Vão pousar-te nas mãos, nas mãos que foram
Tão dadivosas para o vate opresso,
Que o peso dos grilhões me aligeiraram,
Que sobre espinhos me esparziram flores,
Enquanto não recentes, vãos amigos,
Inúteis corações, volúvel turba
(A versos mais atenta que a suspiros)
No Letes mergulhou memórias minhas.
Amigos da Ventura e não de Elmano,
Aónio serviçal de vós me vinga;
Ao nome da Virtude o Vício core.
Não sei se vens de heróis, se vens de grandes;
Não sei, meu benfeitor, se teus maiores
Foram cobertos, decorados foram
De purpúreos dosséis, de márcios loiros;
Sei que frequentas da Amizade o templo,
Que és grande, que és herói aos olhos dela
E eu menos infeliz que tu piedoso.
(A ideia na expressão me cabe apenas!)
Alma iludida, espírito indigente
Se paga, não do que é, do que outros eram;
Os Manes dos avós em vão revoca,
Lustre quer extrair do horror da Morte,
Remexe as cinzas e recorre ao nada.
Tu, dádiva do Eterno a meus desastres,
Tu não careces de esplendor postiço;
Tens os títulos teus nas acções tuas,
Por índole a Virtude, o Bem por norma,
A glória de o fazer e de ocultá-lo;
Eu a glória também de expô-lo ao mundo,
De ornar com teu louvor a Humanidade.
Embora a falsa Opinião maligna
Dardeje contra mim, fulmine a honra,
O carácter de Elmano. Eu tenho Aónio,
Eu tenho a consciência; ambos me escudam,
Munido de ambos à mordaz caterva
Posso afoito bradar: Mentis, perversos!
Quem preza a gratidão não preza o vício;
O mortal vicioso é sempre ingrato.