Poesia Portuguesa

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Poema À Minha Morte

Sei, que um dia fatal me espera, e talha
A minha vida o estame:
Nem Prosérpina evita uma só frente.
Sei que vivi: mas quando
Tem de soltar-se, ignoro, o vivo laço;
E se claros, ou turvos
Se hão-de erguer para mim os sóis vindouros. –
Pois, que ao sevo Destino
Me é vedado fugir, fugi ao longe
Roazes Amarguras,
Que estes permeios anos minar vínheis.
Rir quero – e mui folgado,
De vos ver ir correndo, de encolhidas,
Escondendo na fuga,
As caudas dos medonhos ameaços.
Quero, entre mil saúdes,
De vermelha, faustíssima alegria
Ir passando em resenha,
Taça após taça, a lista dos amigos,
E o coro das formosas,
Que a vida me entreteram com agrado.
E reforçado e lesto
C’o néctar da videira, as mãos travando
Co’as engraçadas Musas,
Em dança festival, com pé ligeiro,
Na matizada relva,
Cansar de tanto júbilo o meu sp’rito,
Que se vá (sem que o sinta)
Continuar o baile nos Elísios)
Entre o Garção e Horácio.
De lá, em novas Odes, que mais valham
Que quantas fiz tégora,
(Pois que emendadas pelo douto Mestre)
Darei pasto à mania
De versejar, que me tomou bem tenro,
Que zombou de remédios.
E de lá mandarei guapos modelos,
Onde ávidos alunos
Bebam largas lições; – se achar Correio;
Que deles se encarregue,
E refretando a barca de Caronte,
Cá lhas recove ao Mundo.


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Poema À Minha Morte - Filinto Elísio