Poema Pequena Elegia de Setembro
Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.





Mais poemas:
- Pequena Elegia Chamada Domingo O domingo era uma coisa pequena. Uma coisa tão pequena que cabia inteirinha nos teus olhos. Nas tuas mãos estavam […]...
- Elegia A alegria da vida, essa alegria d’oiro A pouco e pouco em mim vai-se extinguindo, vai… Melros alegres de bico […]...
- És Música e a Música Ouves Triste? És música e a música ouves triste? Doçura atrai doçura e alegria: porque amas o que a teu prazer resiste, […]...
- Elegia da Lembrança Impossível O que não daria eu pela memória De uma rua de terra com baixos taipais E de um alto ginete […]...
- 8 de Setembro Hoje, este dia foi uma taça cheia, hoje, este dia foi a onda imensa, hoje, foi a terra inteira. Hoje, […]...
- Fragmentos de uma Elegia (6) Sei que me ouves na tempestade e nas gotas que ficam nas folhas, a brilhar. Sei nas ondas ouvir […]...
- Elegia do Amor Lembras-te, meu amor, Das tardes outonais, Em que íamos os dois, Sozinhos, passear, Para fora do povo Alegre e dos […]...
- Há uma Mulher a Morrer Sentada Há uma mulher a morrer sentada Uma planta depois de muito tempo Dorme sossegadamente Como cisne que se prepara Para […]...
- Todos os Dias Todos os dias nascem pequeninas nuvens, róseas umas, aniladas outras, nacaradas espumas… Todos os dias nascem rosas, também róseas ou […]...
- Elegia para Santa Rosa Aurora chega, e permaneces fria noite, imobilizado, cego e mudo às coisas das manhãs que amanhecias: cavalete, jornal, café no […]...
- Uma Vida Pequena Uma vida pequena para que é que serviu? Rasto de poeira em tarde de estio. Que sonhos, que pragas, que […]...
- Pequena América Quando vejo a forma da América no mapa, amor, é a ti que eu vejo: as alturas do cobre em […]...
- A Dor da Ausência Fica Mais Pequena Quando vejo que meu destino ordena Que, por me experimentar, de vós me aparte, Deixando de meu bem tão grande […]...
- A Árvore, a Estrela e a Pequena Mão A pequena mão desenha a árvore onde uma estrela se aninha para dormir. Que dia será o de amanhã no […]...
- Elegia dos Amantes Lúcidos Na girândola das árvores (e não há quem as detenha) Deixa de fora a tarde o vermelho que a tinge. […]...
- Coroava-te de Rosas Se pudesse, coroava-te de rosas neste dia – de rosas brancas e de folhas verdes, tão jovens como tu, minha […]...
- Obscuro Domínio Amar-te assim desvelado entre barro fresco e ardor. Sorver o rumor das luzes entre os teus lábios fendidos. Deslizar pela […]...
- Lassidão Ah, por favor, doçura, doçura, doçura! Acalma esses arroubos febris, minha bela. Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve […]...
- Da Música A musica derrama-se no corpo terroso da palavra. Inclina-se no mundo em mutação do poema. A música traz na bagagem […]...
- Coroai-me de Rosas Coroai-me de rosas, Coroai-me em verdade, De rosas – Rosas que se apagam Em fronte a apagar-se Tão cedo! Coroai-me […]...
- Elegia O teu corpo, uma vez o meu altar e pecado, O teu corpo agora amarelo e viscoso, hostil como a […]...
- Elegia já nada é o que era e provavelmente nunca mais o será e mesmo que o fosse algo me diz […]...
- Música A música vinha duma mansidão de consciência era como que uma cadeira sentada sem um não falar de coisa alguma […]...
- Elegia Vae em seis mezes que deixei a minha terra E tu ficaste lá, mettida n’uma serra, Boa velhinha! que eras […]...
- Elegia em Chamas Arde no lar o fogo antigo do amor irreparável e de súbito surge-me o teu rosto entre chamas e pranto, […]...
- Elegia para a Adolescência E enfim descansaremos sob a verde resistência dos campos escondidos. Nem pensaremos mais no que há-de ser de nós que […]...
- Elegia de Natal Era também de noite Era também Dezembro Vieram-me dizer que o meu irmão nascera Já não sei afinal se o […]...
- Elegia Marítima Nasceu da terra. Seu corpo, feito do limo das grutas, surgiu cavalgando um rio por uma estrada de luas. Através […]...
- Elegia do Ciúme A tua morte, que me importa, se o meu desejo não morreu? Sonho contigo, virgem morta, e assim consigo (mas […]...
- Nunca, por Mais Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça O sair de um lugar, o chegar a um lugar, conhecido […]...
- Elogio da Amada Ei-la que vem ubérrima numerosa escolhida secreta cheia de pensamentos isenta de cuidados Vem sentada na nova primavera cercada de […]...
- Prazeres O primeiro olhar da janela de manhã O velho livro de novo encontrado Rostos animados Neve, o mudar das estações […]...
- As Minhas Ansiedades As minhas ansiedades caem Por uma escada abaixo. Os meus desejos balouçam-se Em meio de um jardim vertical. Na Múmia […]...
- Por Entre os Sons da Música Por entre os sons da música, ao ouvido como a uma porta que ficou entreaberta o que se me revela […]...
- Fumo Longe de ti são ermos os caminhos, Longe de ti não há luar nem rosas; Longe de ti há noites […]...
- Poema à Mãe No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo […]...
- No Fim do Verão No fim do verão as crianças voltam, correm no molhe, correm no vento. Tive medo que não voltassem. Porque as […]...
- Rosas Vermelhas Que estranha fantasia! Comprei rosas encarnadas às molhadas dum vermelho estridente, tão rubras como a febre que eu trazia… – […]...
- O suporte da música o suporte da música pode ser a relação entre um homem e uma mulher, a pauta dos seus gestos tocando-se, […]...
- Três Rosas Sempre, mas sobretudo nas brumosas Horas da tarde, quando acaba o dia, Quando se estrela o céu, tenho a mania […]...