Poema Esterilidade
Ao vê-la caminhar em trajos vaporosos,
Parece que desliza em voluptuosa dança,
Como aqueles répteis da Índia, majestosos,
Que um faquir faz mover em torno d’uma lança.
Como um vasto areal, ou como um céu ardente,
Como as vagas do mar em seu fragor insano,
– Assim ela caminha, a passo, indiferente,
Insensível à dor, ao sofrimento humano.
Seus olhos têem a luz dos cristais rebrilhantes,
E o seu todo estranho onde, a par, se lobriga
O anjo inviolado e a muda esfinge antiga,
Onde tudo é fulgor, ouro, metais, diamantes
Vê-se resplandecer a fria majestade
Da mulher infecunda – essa inutilidade!
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