Poema A Palavra

Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina
e a alegria aviva-se em redonda ressonância.
O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível
que reconhece e inventa a pluralidade delicada.
Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios.

Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo
da coisa nomeada. O rosto da terra se renova.
Ela aflui em círculos desagregando, construindo.
Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua.
Sobre si enrola o anel nupcial do universo.

O gérmen amadurece no seu corpo nascente.
Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo.
Move-se aqui e agora entre contornos vivos.
Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo.
Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano.

(2 votes, average: 3,50 out of 5)

Mais poemas:

Conveniências de não Usar os Olhos, os Ouvidos e a Língua CONVENIÊNCIAS DE NÃO USAR OS OLHOS, OS OUVIDOS E A LÍNGUA Ouvir, ver e calar remédio era nesse tempo em […]...
A Palavra Destino Deixai vir a mim a palavra destino. Manhã de surpresas, lascívia e gema. Acasos felizes, deslizes. Ovo dentro da ave […]...
Amor – Pois que é Palavra Essencial Amor – pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva. Amor guie o meu verso, e […]...
Sobre a Palavra Entre a folha branca e o gume do olhar a boca envelhece Sobre a palavra a noite aproxima-se da chama […]...
Primeira Palavra Aproxima o teu coração e inclina o teu sangue para que eu recolha os teus inacessíveis frutos para que prove […]...
Contigo Acordo na manhã de oiro entre o teu rosto e o mar. As mão afagam a luz, prolongam o dia […]...
Sem outra Palavra para Mantimento Sem outra palavra para mantimento Sem outra força onde gerar a voz Escada entre o poço que cavaste em mim […]...
A Partir da Ausência Imaginar a forma doutro ser Na língua, proferir o seu desejo O toque inteiro Não existir Se o digo acendo […]...
O Anel de Corina Enquanto espera a hora combinada De o remeter com flores a Corina, Ovídio oscúla o anel que lhe destina E […]...
A Palavra Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que […]...
Retrato Ardente Entre os teus lábios é que a loucura acode desce à garganta, invade a água. No teu peito é que […]...
Palavra de Homem Um pouco de amargura não resolve. Um pouco de amargura se dissolve, se nesta cidade não conheces o outro que […]...
A Palavra Mágica Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. […]...
Conserto a Palavra Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio Restauro-a Dou-lhe um som para que ela fale por dentro Ilumino-a […]...
Esta Palavra Saudade Junto de um catre vil, grosseiro e feio, por uma noite de luar saudoso, Camões, pendida a fronte sobre o […]...
Intervalo Quem te disse ao ouvido esse segredo Que raras deusas têm escutado – Aquele amor cheio de crença e medo […]...
O Ferrador de Cavalos Em que língua falarei ao ferrador de cavalos? Por que, na minha língua de assombro e vogal, só falo a […]...
Voz Interior (A João de Deus) Embebido n’um sonho doloroso, Que atravessam fantásticos clarões, Tropeçando n’um povo de visões, Se agita meu […]...
Quanto é Melhor Calar, que Ser Ouvido Silêncio divinal, eu te respeito! Tu, meu Numen serás, serás meu guia Se até ‘qui, insensato, errei a via De […]...
A Luz que Vem das Pedras A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra, tu a colhes, mulher, a distribuis tão generosa e à […]...
Gosto de Amar gosto de amar com os dedos, encontrar o centímetro em que nasce o orgasmo em ti, perceber a extensão da […]...
Vertentes As palavras esperam o sono e a música do sangue sobre as pedras corre a primeira treva surge o primeiro […]...
Rosto Afogado Para sempre um luar de naufrágio anunciará a aurora fria. Para sempre o teu rosto afogado, entre retratos e vendedores […]...
Dia De que céu caído, oh insólito, imóvel solitário na onda do tempo? És a duração, o tempo que amadurece num […]...
Quem é que Abraça o meu Corpo Quem é que abraça o meu corpo Na penumbra do meu leito? Quem é que beija o meu rosto, Quem […]...
Por Entre os Sons da Música Por entre os sons da música, ao ouvido como a uma porta que ficou entreaberta o que se me revela […]...
Em Ramos Tufados, Cheios Eram ramos tufados, cheios, Olha, minha Amada, vê! Deixa que te mostre os frutos Dentro dos ouriços verdes. Redondos, há […]...
Além-Deus I / ABISMO OLHO O TEJO, e de tal arte Que me esquece olhar olhando, E súbito isto me bate […]...
Elogio da Desconhecida Ela. Seus braços vencidos, Naus em procura do mar, Caminhos brancos, compridos, Que conduzem ao luar. Se ao meu pescoço […]...
Perdi os Meus Fantásticos Castelos Perdi meus fantásticos castelos Como névoa distante que se esfuma… Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: Quebrei as minhas lanças […]...
Não Choro pela Pátria Não choro pela pátria Ninguém chora pela pátria Retém-se o grito que lavra pelo corpo sulcos sangrentos e o faz […]...
A Tua Boca A tua boca. A tua boca. Oh, também a tua boca. Um túnel para a minha noite. Um poço para […]...
Quando não te Vejo Perco o Siso Formosura do Céu a nós descida, Que nenhum coração deixas isento, Satisfazendo a todo pensamento, Sem que sejas de algum […]...
No Fim No fim de tudo dormir. No fim de quê? No fim do que tudo parece ser…, Este pequeno universo provinciano […]...
Em Defesa da Língua Portuguesa Desta audácia, Senhor, deste descôco Que entre nós, sem limite, vai lavrando, Quem mais sente as terríveis conseqüências É a […]...
Mais Nada se Move em Cima do Papel mais nada se move em cima do papel nenhum olho de tinta iridescente pressagia o destino deste corpo os dedos […]...
Este é o Papel Singular da Alegria Este é o papel singular da alegria a lei errante do país é o maior dos silêncios. Caminhei por entre […]...
O Êxito Parece a Mais Doce das Coisas O êxito parece a mais doce das coisas A quem nunca venceu na vida. Ter a compreensão de um néctar […]...
Segredo Não contes do meu vestido que tiro pela cabeça nem que corro os cortinados para uma sombra mais espessa Deixa […]...
Começo a Conhecer-me. Não Existo Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade […]...