Poema Coda
Inútil escapar. A presença perdura.
Desde que sinto chão
ou de verde
ou de pedra
é teu rastro que encontro e encontro em ti meu chão.
E quando te pressinto
o de verde é mais terno
e o de mais dura pedra
um sensível durâmen.
Tu que arrancas até da rocha viva o sangue,
tu que vens pela foz destes veios de eu te amo:
– Em que século, amor, nossas almas se fundem?
Em que terra?
Através de que mar? Ah que céu
velho céu já chorou por nós – perdidos cúmulos –
guaiando em nosso mundo impossíveis azuis?
E desde quando o amor se abriu aos nossos olhos?
De que abrolhos e sal de amar nos marejou?
Em meu solo és madeiro
e nave
e asa que sonha.
Em todo canto te acho e onde é teu canto eu sou.





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