Poema A Minha Hora
Que horas são? O meu relógio está parado,
Há quanto tempo!…
Que pena o meu relógio estar parado
E eu não poder marcar esta hora extraordinária!
Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,
Hora som de violino a expirar… Hora vária,
Hora sombra alongada de convento…
Hora feita de nostalgia
Dos degredados…
Hora dos abandonados
E dos que o tédio abate sem cessar…
Hora dos que nunca tiveram alegria,
Hora dos que cismam noite e dia,
Hora dos que morrem sem amar…
Hora em que os doentes de corpo e alma,
Pedem ao Senhor para os sarar…
Hora de febre e de calma,
Hora em que morre o sol e nasce o luar…
Hora em que os pinheiros pela encosta acima,
São monges a rezar…
Hora irmã da caridade
Que dá remédio aos que o não têm…
Hora saudade…
Hora dos Pedro Sem…
Hora dos que choram por não ter vivido,
Hora dos que vivem a chorar alguém…
Hora dos que têm um sonho águia mas… ai!
Águia sem asas para voar…
Hora dos que não têm mãe nem pai
E dos que não têm um berço p’ra embalar…
Hora dos que passam por este mundo,
De olhos fechados, a sonhar…
Hora de sonhos… A minha hora
– ‘Stertor’s de sol, vagidos de luar –
Mas… ai! a lua lá vem agora…
– Senhora lua, minha senhora,
Mais um minuto para a minha hora,
Mais um minuto para sonhar…