Poema Os Amantes de Pompeia
Eles conheceram-se neste abraço
em que levam tanto tempo,
embalados na cadência,
de uma canção desconhecida
e no mover das mãos que hesitam
entre o animal e a planta.
O tempo privou-os de vida
mas não um do outro, tangíveis
nos membros onde o desejo
lateja ainda,
gestos como medusas esvaindo-se
no sangue em que se fundiram para sempre.
Geraram esta outra placenta
com a urgência de quem sabe
que bebe em cada trago despedida:
lenta colheita da alma
que palidamente assoma
em cada poro,
subtil, alada, como pluma
que sem ser vista
se solta.
Neste abraço que os reteve até à sufocação,
depois que se abateram o céu e o horizonte,
o mundo foi-lhes langor
e memória acesa;
petrificados, mortos,
estão diante do nosso olhar,
na posição aflita em que os une,
mais que o esterno e a pelve,
o duplo receio da imortalidade.





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