Autor Mário Sá-Carneiro

Num sonho d’Iris, morto a ouro e brasa, Vem-me lembranças doutro Tempo azul Que me oscilava entre véus de tule […]

Esta inconstancia de mim próprio em vibração É que me ha de transpôr às zonas intermédias, E seguirei entre cristais […]

Era a noite de Natal Alegram-se os pequenitos; Pois sabem que o bom Jesus Costuma dar-lhes bonitos. Vão-se deitar os […]

Nada me expira já, nada me vive – Nem a tristeza nem as horas belas. De as não ter e […]

Numa ânsia de ter alguma cousa, Divago por mim mesmo a procurar, Desço-me todo, em vão, sem nada achar, E […]

As companheiras que não tive, Sinto-as chorar por mim, veladas, Ao pôr do sol, pelos jardins… Na sua mágoa azul […]

Insónia rôxa. A luz a virgular-se em mêdo, Luz morta de luar, mais Alma do que a lua… Ela dança, […]

Volteiam dentro de mim, Em rodopio, em novelos, Milagres, uivos, castelos, Forcas de luz, pesadelos, Altas tôrres de marfim. Ascendem […]

Só de ouro falso os meus olhos se douram; Sou esfinge sem mistério no poente. A tristeza das coisas que […]

Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto, E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim. Passei pela […]

Aonde irei neste sem-fim perdido, Neste mar ôco de certezas mortas? – Fingidas, afinal, todas as portas Que no dique […]

Guilhotinas, pelouros e castelos Resvalam longamente em procissão; Volteiam-me crepúsculos amarelos, Mordidos, doentios de roxidão. Batem asas d’auréola aos meus […]

Fios d’ouro puxam por mim A soerguer-me na poeira – Cada um para o seu fim, Cada um para o […]

Mastros quebrados, singro num mar d’Ouro Dormindo fôgo, incerto, longemente… Tudo se me igualou num sonho rente, E em metade […]

Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai […]

Um pouco mais de sol – eu era brasa, Um pouco mais de azul – eu era além. Para atingir, […]

E eu que sou o rei de toda esta incoerência, Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la E giro até partir… […]

A horas flébeis, outonais – Por magoados fins de dia – A minha Alma é água fria Em ânforas d’Ouro… […]

Há Ouro marchetado em mim, a pedras raras, Ouro sinistro em sons de bronzes medievais – Joia profunda a minha […]

Olho em volta de mim. Todos possuem – Um afecto, um sorriso ou um abraço. Só para mim as ânsias […]