Poema Tragédia

Foi para a escola e aprendeu a ler
e as quatro operações, de cor e salteado.
Era um menino triste:
nunca brincou no largo.
Depois, foi para a loja e pôs a uso
aquilo que aprendeu
– vagaroso e sério,
sem um engano,
sem um sorriso.
Depois, o pai morreu
como estava previsto.
E o Senhor António
(tão novinho e já era “o Senhor António”!…)
ficou dono da loja e chefe da família…
Envelheceu, casou, teve meninos,
tudo como quem soma ou faz multiplicação!…
E quando o mais velhinho
já sabia contar, ler, escrever,
o Senhor António deu balanço à vida:
tinha setenta anos, um nome respeitado…
– que mais podia querer?
Por isso,
num meio-dia de Verão,
sentiu-se mal.
Decentemente abriu os braços
e disse: – Vou morrer.
E morreu!, morreu de congestão…

(1 votes, average: 5,00 out of 5)

Mais poemas:

Sê de Pedra! Não reparaste nunca? Pela aldeia, Nos fios telegraphicos da estrada, Cantam as aves, desde que o sol nada, E, á […]...
Terra – 24 António, é preciso partir! o moleiro não fia, a terra é estéril, a arca vazia, o gado minga e se […]...
Há no Pensador uma Tragédia Limitada há no pensador uma tragédia limitada o diabo atira pelas frestas para acertar na verdade na mãe opressora no pai […]...
A Minha Tragédia Tenho ódio à luz e raiva à claridade Do sol, alegre, quente, na subida. Parece que a minh’alma é perseguida […]...
Canção A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguem a conhecia e todos estão a chorar. A pastorinha morreu, morreu de […]...
Evolução Arde o corpo do sol, brotam feixes de luz: O que é a luz? Sol que morreu. Dardeja a luz, […]...
Poema Quase Apostólico Está sereno o poeta Desprende-se-lhe dos ombros e cai depois em pregas por ele abaixo a manhã Não pertencem ao […]...
A Paz sem Vencedor e sem Vencidos Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos A paz sem vencedor e sem vencidos Que o tempo que nos deste […]...
Primavera O sol vae esmolando os campos com bôdos de oiro. A pastorinha aquecida vae de corrida a mendigar a sombra […]...
Lamento Senhor! Senhor! que um ai nunca me ouviste Na minha dôr! Ai vida, vida minha, como és triste!… Senhor! Senhor! […]...
Tempestade! O meu beliche é tal qual o bercinho, Onde dormi horas que não vêm mais. Dos seus embalos já estou […]...
Na hora de pôr a mesa, éramos cinco na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, […]...
Mestre Mestre, meu mestre querido, Coração do meu corpo intelectual e inteiro! Vida da origem da minha inspiração! Mestre, que é […]...
Amiga, o Coração Seu Amiga, muit’ha gran sazón que se foi d’aquí con el-rei meu amigo, mais ja cuidei mil vezes no meu coraçón […]...
O que vos Nunca Cuidei a Dizer O que vos nunca cuidei a dizer, com gram coita, senhor, vo-lo direi, porque me vejo já por vós morrer; […]...
Do Aprendiz de Escultor Existe uma voz na pedra? Lá no alto daquela pedra mora um colomi de pedra chamado Itacolomi. O colomi, lá […]...
A Vossa Carta Commove A vossa carta commove, Mas, não vos posso acompanhar. Deixae-me viver em penas; – Vou soffrendo e vou sorrindo, O […]...
Pois se para os Amar não Foram Feitos Pois se para os amar não foram feitos, Senhor, aqueles olhos soberanos, Porque, por tantos modos, mais que humanos, Pintando […]...
Vocação de Poeta Recentemente, ao repousar Sob essa folhagem Ouvi bater, tiquetaque, Suavemente, como em compasso. Aborrecido, fiz uma careta, Depois, abandonando-me, Acabei, […]...
Poema Quotidiano É tão depressa noite neste bairro Nenhum outro porém senhor administrador goza de tão eficiente serviço de sol Ainda não […]...
Como se Morre de Velhice Como se morre de velhice ou de acidente ou de doença, morro, Senhor, de indiferença. Da indiferença deste mundo onde […]...
Poemas da Infância Segundo Quando foi que demorei os olhos sobre os seios nascendo debaixo das blusas, das raparigas que vinham, à tarde, […]...
Poz-te Deus Sobre a Fronte a Mão Piedosa Poz-te Deus sobre a fronte a mão piedosa: O que fada o poeta e o soldado Volveu a ti o […]...
Minha Culpa A Artur Ledesma Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem… Sou um reflexo… […]...
Tristeza Esta noite eu durmo de tristeza. (O sono que eu tinha morreu ontem queimado pelo fogo de meu bem.) O […]...
Elegia do Ciúme A tua morte, que me importa, se o meu desejo não morreu? Sonho contigo, virgem morta, e assim consigo (mas […]...
Avarento Puxando um avarento de um pataco Para pagar a tampa de um buraco Que tinha já nas abas do casaco, […]...
Litania do Natal A noite fora longa, escura, fria. Ai noites de Natal que dáveis luz, Que sombra dessa luz nos alumia? Vim […]...
Para As Raparigas de Coimbra 1 Ó choupo magro e velhinho, Corcundinha, todo aos nós: És tal qual meu avôzinho, Falta-te apenas a voz. 2 […]...
As Pessoas Sensíveis As pessoas sensíveis não são capazes De matar galinhas Porém são capazes De comer galinhas O dinheiro cheira a pobre […]...
Da Oração Doce quietação de quem vos ama, Em serviços, Senhor, que tanto quanto Amado sois, tão longe o fim de tanto, […]...
O Maestro Sacode a Batuta O maestro sacode a batuta, A lânguida e triste a música rompe… Lembra-me a minha infância, aquele dia Em que […]...
A Poesia Vai Acabar A poesia vai acabar, os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis. Por exemplo, observadores de pássaros (enquanto os […]...
Hino à Dor Sorri com mais doçura a boca de quem sofre, Embora amargue o fel que os seus lábios beberam; É mais […]...
Destino Quem disse à estrela o caminho Que ela há-de seguir no céu? A fabricar o seu ninho Como é que […]...
Adiamento Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã… Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; […]...
Primeira Casa Muitas vezes, por outras casas e noutros países sonhava com o soalho antigo e a varanda onde um entardecer de […]...
Obsessão Dentro de mim canta, intenso, Um cantar que não é meu: Cantar que ficou suspenso, Cantar que já se perdeu. […]...
Mensagem – O Encoberto O ENCOBERTO Pax In Excelsis I. Os Símbolos Primeiro / D. Sebastião ‘Sperai! Caí no areal e na hora adversa […]...
Poema do Silêncio Sim, foi por mim que gritei. Declamei, Atirei frases em volta. Cego de angústia e de revolta. Foi em meu […]...