Poema O Ferrador de Cavalos
Em que língua falarei
ao ferrador de cavalos?
Por que, na minha língua
de assombro e vogal,
só falo a mim mesmo
– ao meu nada e ao meu tudo –
e nem sequer disponho
do gesto dos mudos?
Se as palavras morrem
à míngua como os homens
e se o silêncio fala
seu próprio idioma
em que língua direi
ao homem diferente
que ele é meu semelhante
quando o vejo ferrar
o casco de um cavalo?
Empunhando o martelo
ele me conta histórias
de cravos perdidos
e cavalos mancos.
Palavras que se perdem
como ferraduras
no caminho do pasto.





Mais poemas:
- Não Sei quem em Vós Mais Vejo Não sei qu’em vós mais vejo; não sei que mais ouço e sinto ao rir vosso e falar; não sei […]...
- Quando não te Vejo Perco o Siso Formosura do Céu a nós descida, Que nenhum coração deixas isento, Satisfazendo a todo pensamento, Sem que sejas de algum […]...
- A Tua Boca A tua boca. A tua boca. Oh, também a tua boca. Um túnel para a minha noite. Um poço para […]...
- O Outro Vão para ti, amor de algum dia, os gritos rubros da minha alma em sangue; vives cm mim, corres-me nas […]...
- Os Teus Olhos Direi verde do verde dos teus olhos de um rugoso mais verde e mais sedento Daquele não só íntimo ou […]...
- Com Palavras Com palavras me ergo em cada dia! Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto e saio para a rua. Com […]...
- No Ciclo Eterno das Mudáveis Coisas No ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém […]...
- As Palavras de Amor Esqueçamos as palavras, as palavras: As ternas, caprichosas, violentas, As suaves de mel, as obscenas, As de febre, as famintas […]...
- O Amigo Embora seja teu amigo não nos encontraremos nunca. Jamais verás a minha sombra quando eu caminhar ao teu lado nem […]...
- O Constante Diálogo Há tantos diálogos Diálogo com o ser amado o semelhante o diferente o indiferente o oposto o adversário o surdo-mudo […]...
- Canção de Amor Eu cantaria mesmo que tu não existisses, faria amor, assim, com as palavras. Eu cantaria mesmo que tu não existisses […]...
- Uma Gargalhada de Raparigas Uma gargalhada de raparigas soa do ar da estrada. Riu do que disse quem não vejo. Lembro-me já que ouvi. […]...
- Quando Eu, Senhora, em Vós os Olhos Ponho Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho, e vejo o que não vi nunca, nem cri que houvesse cá, […]...
- Sinónimos num idioma diferente Sinónimos num idioma diferente, nós que carregamos estes filhos com a linguagem da luz, que corremos com uma canção de […]...
- Camões, Grande Camões, quão Semelhante Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, […]...
- Até Amanhã Sei agora como nasceu a alegria, como nasce o vento entre barcos de papel, como nasce a água ou o […]...
- Enterro de Luxo Lá vai o enterro de luxo puxado por sete cavalos lá vai a rosa de plástico na lapela do cadáver. […]...
- É Inútil Querer Parar o Homem É inútil querer parar o Homem, o que transforma a pedra em piso, o piso em casa e a casa […]...
- A Sua Verdadeira Realidade Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo Passa um momento uma figura de […]...
- Há Palavras que Nos Beijam Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. […]...
- A Palavra Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina e a alegria aviva-se em redonda ressonância. O seu olhar é um sonho […]...
- Soneto de amor Não me peças palavras, nem baladas, Nem expressões, nem alma… Abre-me o seio, Deixa cair as pálpebras pesadas, E entre […]...
- Sociedade O homem disse para o amigo: – Breve irei a tua casa e levarei minha mulher. O amigo enfeitou a […]...
- Quando a ternura for a única regra da manhã um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços. a tua pele será […]...
- Lisboa Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias […]...
- Vida Toda Linguagem Vida toda linguagem, frase perfeita sempre, talvez verso, geralmente sem qualquer adjectivo, coluna sem ornamento, geralmente partida. Vida toda linguagem, […]...
- O Mar Semelhante a Algum Monstro, Quando Dorme – O Mar… Era sombrio, Vasto, Enorme… – Arfando Demorado, – Imenso sob os […]...
- Ser Real quer Dizer não Estar Dentro de Mim Seja o que for que esteja no centro do Mundo, Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade, E quando […]...
- Obsessão Os bosques para mim são como catedrais, Com orgãos a ulular, incutindo pavor… E os nossos corações, – jazidas sepulcrais, […]...
- Tu Ensinaste-me a Fazer uma Casa Tu ensinaste-me a fazer uma casa: com as mãos e os beijos. Eu morei em ti e em ti meus […]...
- O Meu Sonho Habitual Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante Com uma desconhecida, que amo e que me ama E que, de […]...
- 21 Anos Os meus cavalos espantaram-se Como o Hipólito da tragédia grega bocados de mim pendem dos arbustos...
- Quando? Este falar de mim já me consola. Mas quando direi de mim o quanto que me baste, e tanto que […]...
- A Invenção do Amor Em todas as esquinas da cidade nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros mesmo […]...
- Ter Certeza é não Estar Vendo Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã. As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço, Da trovoada de […]...
- Os Anos Quarenta Amo-te mais quando olho quando para a torneira do gás quando estou nu à noite quando e começo a mexer […]...
- Agora que as Palavras Secaram Agora que as palavras secaram e se fez noite entre nós dois, agora que ambos sabemos da irreversibilidade do tempo […]...
- Tudo é Belo Tudo é belo Mulher e por exemplo uma água quando a gente bebe ou uma água que a gente joga […]...
- Dos Restos de Velhos Tempos Para exemplo ainda continua a Lua Nas noites por sobre os novos edifícios; Entre as coisas de cobre É ela […]...
- Testemunho Incontestado 1 Camões, mas que Camões? Que mundo em transição se fixa nesta língua Que margem se afirma na língua que […]...