Poema Usura do Amor
Por cada hora em que agora me poupares
Eu dar-te-ei,
Usurário deus do Amor, vinte para ti
Quando meus cabelos castanhos os grisalhos igualarem.
Até então, Amor, deixa meu corpo reinar e permite
Que viaje, me hospede, arrebate, intrigue, possua, esqueça,
Retome a conquista do ano passado, e pense que até agora
Nunca nos tínhamos encontrado.
Deixa-me tomar por minha qualquer carta de um rival,
E nove horas mais tarde,
Cumprir a promessa da meia-noite; pelo caminho, enganar
A criada, e contar à senhora da demora.
Deixa que não ame nenhuma – não -, só o jogo do amor.
Junto da erva do campo, dos doces da corte
Ou “coizinhas” da cidade, torna públicas
As disposições da minha mente.
Fazes um bom negócio. Se já velho vier a ser
Inflamado por ti
E se, a tua própria honra, minha vergonha ou dor
Cobiças, muito mais ganharás nessa idade.
Faz então a tua vontade, porque sujeito e mandatário
E fruto do amor, Amor, a ti me submeto.
Poupa-me até então, e suportá-lo-ei, mesmo que ela seja
Uma que me ame.