Poema Posso Te Dar
Posso te dar a carta de marinha
mas o traço que nela insinuasse
um entre tantos rumos
não.
Posso te dar as tábuas de marés
mas a leve emoção de cavalgar
onda e onda após onda
não.
Posso te dar os índices das águas
conforme as densidades, mas a branda
flutuação do casco
não.
Posso te dar a rosa e o timão
mas o desequilíbrio concertante
ao balanço de bordo
não.
Posso te dar exemplos de ancoragens
mas o galeio do barco seguro
retesando as amarras
não.
Posso te dar o longe no binóculo
mas acolá das lentes a paisagem
convidando à viagem
não.
Posso te dar notícia do mar calmo
mas o rumor das franjas no espelhado
junto à roda de proa
não.
Posso te dar o gorro marinheiro
mas a pressão do linho nos cabelos
enquanto sopra o vento
não.
Posso te dar a direcção da chuva
mas o gosto da baga salitrada
escorrendo no rosto
não.
Posso te dar posturas de sextante
mas o fulgor da estrela observada
entre horizonte e prisma
não.
Posso te dar os nomes de alguns peixes
mas o espanto de vê-los acender
fosforescentes rastros
não.
Posso te dar frios conhecimentos
mas o que se acalenta no convívio
amoroso do mar
não.