Poema Enterro de Luxo
Lá vai o enterro de luxo
puxado por sete cavalos
lá vai a rosa de plástico
na lapela do cadáver.
Lá vai o defunto imberbe
boiando em madeira nobre
lá vai a língua bilingue
com seu sotaque podre.
Lá vai o queixo amarrado
lá vai a gravata oblíqua
montada na escorreguenta
garupa da metafísica.
Lá vai o enterro de luxo
lá vai a conta bancária
lá vai a calva engomada
lá vai o ouro da cárie.
Lá vai o enterro de luxo
levado por ventos negros
lá vão os pendões de luto
com seus narizes alegres.
Lá vai o enterro de luxo
lá vai o perfil de árabe
tangido pra correnteza
volúvel da eternidade.
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