Poema Ode à Esperança
1
Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.
2
Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidão pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,
3
Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.
4
Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.
5
Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortúnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.
6
Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que não me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,
Que farei infelice,
Se tu, meiga Esperança, não me acodes?
7
Ai! que um de seus agrados é mais doce
Que o néctar saboroso;
É mais doce que os beijos requintados
Da namorada Vénus,
A que o Grego põe preço tão subido.
8
Vem, vem, doce Esperança, que eu prometo
Ornar os teus altares
Co’a viçosa verbena, que te agrada,
Co’a linda flor, que agora,
Enfeita os troncos, que te são sagrados.