Poema Derramado

Raro e vazio dia.
Calmo e velho dia.
Os membros lassos debruados deste cansaço sem porquê.

Raro e vazio dia,
assim inteiro e implacável
na solidão grave e trágica do meu quarto nu.

Perdido, perdido, este vagabundear dos meus olhos
sobre os livros fechados e decorados,
sobre as árvores roídas,
sobre as coisas quietas, quietas…

Raro e vazio dia
na minha boca pálida e pouca,
sem uma praga para quebrar a magia do ópio!

(2 votes, average: 3,00 out of 5)

Mais poemas:

Eu Planto no Teu Corpo Como se arrasta no sol morno um verme Por sobre a polpa de uma fruta, eu durmo A tua carne […]...
Um Renque de Árvores lá Longe Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta. Mas o que é um renque de árvores? Há árvores […]...
Por Todos os Caminhos do Mundo A minha poesia é assim como uma vida que vagueia pelo mundo, por todos os caminhos do mundo, desencontrados como […]...
Coisas há coisas que vão ficando fotografias louças contas antigas não sei debruçámo-nos tanto sobre a minúcia do quotidiano que o […]...
A Tua Boca A tua boca. A tua boca. Oh, também a tua boca. Um túnel para a minha noite. Um poço para […]...
Leitura Quando por fim as árvores se tornam luminosas; e ardem por dentro pressentindo; folha a folha; as chamas ávidas de […]...
Realidade Em ti o meu olhar fez-se alvorada, E a minha voz fez-se gorjeio de ninho, E a minha rubra boca […]...
Aos que a Felicidade é Sol, Virá a Noite Quero ignorado, e calmo Por ignorado, e próprio Por calmo, encher meus dias De não querer mais deles. Aos que […]...
O Futuro Sai da Fenda e da Ferida a geometria abre a linha para deixar passar a Imaginação. O FUTURO sai da FENDA e da FERIDA. Do que […]...
Os Velhos Todos nasceram velhos – desconfio. Em casas mais velhas que a velhice, em ruas que existiram sempre – sempre assim […]...
Renúncia A minha mocidade há muito pus No tranquilo convento da tristeza; Lá passa dias, noites, sempre presa, Olhos fechados, magras […]...
O Andaime O tempo que eu hei sonhado Quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado Foi só a vida […]...
Sol Poente Tardinha… “Ave-Maria, Mãe de Deus…” E reza a voz dos sinos e das noras… O sol que morre tem clarões […]...
É Noite, Mãe As folhas já começam a cobrir o bosque, mãe, do teu outono puro… São tantas as palavras deste amor que […]...
O Amor Limitado Algum homem indigno de ser possuidor De amor velho ou novo, sendo ele próprio falso ou fraco, Pensou que a […]...
Amiga Deixa-me ser a tua amiga, Amor, A tua amiga só, já que não queres Que pelo teu amor seja a […]...
Post Coitum Animal Triste Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada do […]...
Sabedoria Nos dias em que nada vale a pena, E em que as árvores amigas São iguais e estão vistas, A […]...
A Angústia Nada em ti me comove, Natureza, nem Faustos das madrugadas, nem campos fecundos, Nem pastorais do Sul, com o seu […]...
Surdina No ar sossegado um sino canta, Um sino canta no ar sombrio… Pálida, Vênus se levanta… Que frio! Um sino […]...
Árvores do Alentejo Ao Prof Guido Battelli Horas mortas… Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido… e, torturadas, As árvores […]...
Para o Meu Coração Para o meu coração basta o teu peito, para a tua liberdade as minhas asas. Da minha boca chegará até […]...
Rosa Pálida Rosa pálida, em meu seio Vem, querida, sem receio Esconder a aflita cor. Ai!, a minha pobre rosa! Cuida que […]...
Quando Eu não te Tinha Quando eu não te tinha Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo. Agora amo a Natureza Como um […]...
Glória Vive dentro de mim um mundo raro Tão vário, tão vibrante, tão profundo Que o meu amor indómito e avaro […]...
Antes de Amar-te Eu nada Tinha Antes de amar-te, amor, eu nada tinha: vacilei pelas ruas e pelas coisas: nada contava nem tinha nome: o mundo […]...
No Ciclo Eterno das Mudáveis Coisas No ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém […]...
Do Passado Arrependido Do passado arrependido, seguro doutro erro tal, seja o perdido, perdido, e do mal, o menos mal. Faça-se o que […]...
Vibra o Passado em Tudo o que Palpita Vibra o passado em tudo o que palpita qual dança em coração de bailarino ao regressar já mudo o violino […]...
Inteligência, Dá-me o Nome Exacto das Coisas Inteligência, dá-me o nome exacto das coisas! … Minha palavra seja a própria coisa, criada por minha alma novamente. Que […]...
Toma-me Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca Austera. Toma-me AGORA, ANTES Antes que a carnadura se desfaça […]...
Burgo Meu velho burgo dormido meu berço de heras poeira húmida de secos orvalhos minha lembrança de presságios não cumpridos Meu […]...
A Tua Boca Adormeceu A tua boca adormeceu parece um cais muito antigo à volta da minha boca. Mas as palavras querem voltar à […]...
Relíquia Era de minha mãe: é um pobre xale que tem pra mim uma carícia de asa. Vou-lhe pedir ainda que […]...
A Minha Alma Partiu-se A minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu pela escada excessivamente abaixo. Caiu das mãos da criada descuidada. Caiu, […]...
À Solidão Solidão coroada de rosas, quem pudera aprisionar teu corpo de sol e de harmonia; estar dentro de ti toda esta […]...
Elegia para Santa Rosa Aurora chega, e permaneces fria noite, imobilizado, cego e mudo às coisas das manhãs que amanhecias: cavalete, jornal, café no […]...
Eu Até agora eu não me conhecia, julgava que era Eu e eu não era Aquela que em meus versos descrevera […]...
Ambiciosa Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O vôo dum gesto […]...
Ruínas I E é triste ver assim ir desfolhando, Vê-las levadas na amplidão do ar, As ilusões que andámos levantando Sobre […]...