Poema Escrevemos Docemente
Escrevemos docemente. Se a figura
sobe de estar tão funda a essa mesa
é que escrever se lembra. E só da altura
de se lembrar percorre a linha acesa
a ponta de escrever, que traça a pura
forma de rosto que abre na tristeza.
E a tristeza ilumina de escultura
penumbras de volumes com que pesa.
Por isso é docemente que da linha
de estar ali aonde sempre esteve
aparece figura de rainha
que sempre foi e agora só se escreve.
E escrevermos é como se na vinha
o sol se iluminasse. E fosse breve.
(1 votes, average: 5,00 out of 5)
Mais poemas:
- Se em Nós a Solidão Viver Sozinha Se em nós a solidão viver sozinha, sem que nada em nós próprios a perturbe, cada figura passará rainha na […]...
- A Obra o Leva Depois de havê-lo feito, a obra o leva pela tarefa maior em que quase de si e dela se desprenda […]...
- O Que Amamos Está Sempre Longe de Nós O que amamos está sempre longe de nós: e longe mesmo do que amamos – que não sabe de onde […]...
- Qualquer Coisa de Paz Qualquer coisa de paz. Talvez somente a maneira de a luz a concentrar no volume, que a deixa, inteira, assente […]...
- O Dia Deu em Chuvoso O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, esteve bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava […]...
- Um Segredo Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma […]...
- Os Significados Não sei como tudo começou: suponho que havia uma figura que depois se estilhaçou para formar um puzzle. Mas se […]...
- Não Tenho Pressa Não tenho pressa. Pressa de quê? Não têm pressa o sol e a lua: estão certos. Ter pressa é crer […]...
- Aspiração Meus dias vão correndo vagarosos Sem prazer e sem dor, e até parece Que o foco interior já desfalece E […]...
- Vocação de Poeta Recentemente, ao repousar Sob essa folhagem Ouvi bater, tiquetaque, Suavemente, como em compasso. Aborrecido, fiz uma careta, Depois, abandonando-me, Acabei, […]...
- Saudade Ter saudade é vaga disforme de um corpo. Ter saudade é pássaro que aparece e se apaga erguido de confusão […]...
- Como Inútil Taça Cheia Como inútil taça cheia Que ninguém ergue da mesa, Transborda de dor alheia Meu coração sem tristeza. Sonhos de mágoa […]...
- Tristeza Esta noite eu durmo de tristeza. (O sono que eu tinha morreu ontem queimado pelo fogo de meu bem.) O […]...
- Diálogo A cruz dizia à terra onde assentava, Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo: – Que és tu, abismo […]...
- Poema da Memória Havia no meu tempo um rio chamado Tejo que se estendia ao Sol na linha do horizonte. Ia de ponta […]...
- Anseios Meu doido coração aonde vais, No teu imenso anseio de liberdade? Toma cautela com a realidade; Meu pobre coração olha […]...
- Amar Teus Olhos Podia com teus olhos escrever a palavra mar. Podia com teus olhos escrever a palavra amar não fossem amor já […]...
- Tédio Passo pálida e triste. Oiço dizer: “Que branca que ela é! Parece morta!” e eu que vou sonhando, vaga, absorta, […]...
- Antes o Vôo da Ave Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto, Que a passagem do animal, que fica lembrada no […]...
- Quem é que Abraça o meu Corpo Quem é que abraça o meu corpo Na penumbra do meu leito? Quem é que beija o meu rosto, Quem […]...
- Poeminha Sentimental O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas… De […]...
- Namorados da Cidade Namorados de Lisboa à beira-Tejo assentados a dormir na Madragoa. Namorados de Lisboa num mirante deslumbrados à beira-verde acordados namorados […]...
- A Espantosa Realidade das Cousas A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E […]...
- Encantamento Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar A tua dôce e angelica Figura, Esquecido, embebido num luar, Num enlêvo perfeito […]...
- A uma Bailarina Quero escrever meu verso no momento Em que o limite extremo da ribalta Silencia teus pés, e um deus se […]...
- Tenho um Corpo a Sentir o que é de Todos Tenho um corpo a sentir o que é de todos, um espelho aonde não aparece tudo; nem a mão que […]...
- De la Musique Ah, pouco a pouco, entre as árvores antigas, A figura dela emerge e eu deixo de pensar… Pouco a pouco, […]...
- Adeus Sim, vou partir. E não levo saudade De ninguém Nem em ti penso agora! Julgavas que a tristeza desta hora […]...
- Poeminha Compensatório Amigas, venham todas Tragam o sal, o sol, o som, a vida, O riso, a onda. Eu sou o Cavalheiro […]...
- Balada dos Amigos Separados Onde estais vós Alberto Henrique João Maria Pedro Ana? Onde anda agora a vossa voz? Que ruas escutam vossos passos? […]...