Poema Ruína
Sem encontrar-se.
Viajante pelo seu próprio torso branco.
Assim ia o ar.
Logo se viu que a lua
era uma caveira de cavalo
e o ar uma maçã escura.
Detrás da janela,
com látegos e luzes se sentia
a luta da areia contra a água.
Eu vi chegarem as ervas
e lhes lancei um cordeiro que balia
sob seus dentezinhos e lancetas.
Voava dentro de uma gota
a casca de pluma e celulóide
da primeira pomba.
As nuvens, em manada,
ficaram adormecidas contemplando
o duelo das rochas contra a aurora.
Vêm as ervas, filho;
já soam suas espadas de saliva
pelo céu vazio.
Minha mão, amor. As ervas!
Pelos cristais partidos da morada
o sangue desatou suas cabeleiras.
Tu somente e eu ficamos;
prepara teu esqueleto para o ar.
Eu só e tu ficamos.
Prepara teu esqueleto;
é preciso ir buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sonho.





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