Poema O Morto Prazenteiro
Onde haja caracóis, n’um fecundo torrão,
Uma grandiosa cova eu mesmo quero abrir,
Onde repouse em paz, onde possa dormir,
Como dorme no oceano o livre tubarão.
Detesto os mausoléus, odeio os monumentos,
E, a ter de suplicar as lágrimas do mundo,
Prefiro oferecer o meu carcaz imundo,
Qual precioso manjar, aos corvos agoirentos.
Verme, larva brutal, tenebroso mineiro,
Vai entregar-se a vós um morto prazenteiro,
Que livremente busca a treva, a podridão!
Sem piedade, minai a minha carne impura,
E dizei-me depois se existe uma tortura
Que não tenha sofrido este meu coração!
(1 votes, average: 5,00 out of 5)
Mais poemas:
- De um Amor Morto De um amor morto fica Um pesado tempo quotidiano Onde os gestos se esbarram Ao longo do ano De um […]...
- Palavras d’um Certo Morto Há mil anos, e mais, que aqui estou morto, Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento: Não há […]...
- A Plácida Face Anónima de um Morto A plácida face anónima de um morto. Assim os antigos marinheiros portugueses, Que temeram, seguindo contudo, o mar grande do […]...
- O Verme Existe uma flor que encerra Celeste orvalho e perfume. Plantou-a em fecunda terra Mão benéfica de um nume. Um verme […]...
- A um Poeta Morto Quando a primeira vez a harmonia secreta De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira, – Dentro do coração do […]...
- Eu Planto no Teu Corpo Como se arrasta no sol morno um verme Por sobre a polpa de uma fruta, eu durmo A tua carne […]...
- Entre Sombras Vem ás vezes sentar-se ao pé de mim – A noite desce, desfolhando as rosas – Vem ter commigo, ás […]...
- Soneto D’Um Poeta Morto Bem sei que hei de morrer cedo e cansado, Alguma cousa triste em mim o diz, E vagarei no mundo […]...
- A Avidez da Morte Quem nos contará o que o morto sabia mas não disse? Quem há-de escrever as cartas que o morto não […]...
- Obsessão Os bosques para mim são como catedrais, Com orgãos a ulular, incutindo pavor… E os nossos corações, – jazidas sepulcrais, […]...
- Alegria De passadas tristezas, desenganos amarguras colhidas em trinta anos, de velhas ilusões, de pequenas traições que achei no meu caminho…, […]...
- O Poeta Triste, lá vai à ronda dos segredos O maluco que rouba quanto vê. Branco, do coração aos dedos, É todo […]...
- Aparição Um dia, meu amor (e talvez cedo, Que já sinto estalar-me o coração!) Recordarás com dor e compaixão As ternas […]...
- Um Dia, de Repente Um dia, de repente, arrastam-nos à força para um lugar incerto. Um dia, de repente, Desnudam-nos impudica/ mente. Um dia, […]...
- A Encomenda do Silêncio Já reparaste que tens o mundo inteiro dentro da tua cabeça e esse mundo em brutal compressão dentro da tua […]...
- Um Sentido Porque há um sentido no lírio, incensar-se; e no choupo, erguer-se; e na urze arborescente, ampliar-se; e no cobre, primeira […]...
- Post Coitum Animal Triste Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada do […]...
- Mendiga Na vida nada tenho e nada sou; Eu ando a mendigar pelas estradas… No silêncio das noites estreladas Caminho, sem […]...
- O Albatroz Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem Na caça do albatroz, ave enorme e voraz, Que segue pelo azul […]...
- Os Treze Anos (Cantilena) Já tenho treze anos, que os fiz por Janeiro: Madrinha, casai-me com Pedro Gaiteiro. Já sou mulherzinha, já trago […]...
- Tédio Tenho as recordações d’um velho milenário! Um grande contador, um prodigioso armário, Cheiinho, a abarrotar, de cartas memoriais, Bilhetinhos de […]...
- Tédio Sobre minh’alma, como sobre um trono, Senhor brutal, pesa o aborrecimento. Como tardas em vir, último outono, Lançar-me as folhas […]...
- O Dilúvio Há muitos dias já, há já bem longas noites que o estalar dos vulcões e o atroar das torrentes ribombam […]...
- A Morte o Amor a Vida Julguei que podia quebrar a profundeza a [imensidade Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco Estendi-me na minha […]...
- A Minha Dôr Tua morte feriu-me no mais fundo, Remoto da minh’alma que eu julgava Já fóra desta vida e deste mundo! E […]...
- Minha Culpa A Artur Ledesma Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem… Sou um reflexo… […]...
- Requiem para um Defunto Vulgar Antoninho morreu. Seu corpo resignado é como um rio incolor, regressando à nascente num silêncio de espanto e mistério revelado. […]...
- Debaixo desta Campa Sepultado Debaixo desta campa sepultado Jaz um peito, um que etéreo fogo ardia, Que da Lusa Eloquência, e da Poesia Será […]...
- Calmaria Nada! Horas e horas neste ponto morto Onde caiu agora a minha vida… Nem um desejo, ao menos! Só instintos […]...
- Oceano Nox Junto do mar, que erguia gravemente A trágica voz rouca, enquanto o vento Passava como o vôo do pensamento Que […]...