Poema A Leitora
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.





Mais poemas:
- A Festa do Silêncio Escuto na palavra a festa do silêncio. Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. As coisas vacilam tão próximas […]...
- Uma Cidade Uma cidade pode ser apenas um rio, uma torre, uma rua com varandas de sal e gerânios de espuma. Pode […]...
- Aqui Mereço-te O sabor do pão e da terra e uma luva de orvalho na mão ligeira. A flor fresca que respiro […]...
- Procuro-te Procuro a ternura súbita, os olhos ou o sol por nascer do tamanho do mundo, o sangue que nenhuma espada […]...
- Prova Documental Já assumi a solidão dos outros já provei do enigma insolúvel já calcei as botas do morto já tive segredo […]...
- Aurora A poesia não é voz – é uma inflexão. Dizer, diz tudo a prosa. No verso nada se acrescenta a […]...
- Vénus I À flor da vaga, o seu cabelo verde, Que o torvelinho enreda e desenreda… O cheiro a carne que […]...
- Solidão Cai chuva, chora. Chora, chora. Solidão, solidão! Já não canta o pássaro. Calou-se a voz, a alegre, a rara. A […]...
- Z As formas, as sombras, a luz que descobre a noite e um pequeno pássaro e depois longo tempo eu te […]...
- Nocturno a Duas Vozes – Que posso eu fazer senão beber-te os olhos enquanto a noite não cessa de crescer? – Repara como sou […]...
- Uma Beleza Dificílima O silêncio abre o coração das sombras. Por tal sossego, as árvores caminham. Mas são as mulheres quem lhes assegura […]...
- Vou de Suspiros Todo este Ar Enchendo Vou de suspiros todo est’ ar enchendo, vou a terra de lágrimas regando, mais água aos rios, mais às fontes […]...
- A. L Não és a flor olímpica e serena Que eu vejo em sonhos na amplidão distante; Não tens as formas ideais […]...
- Movimento Se tu és a égua de âmbar eu sou o caminho de sangue Se tu és o primeiro nevão eu […]...
- As meninas as minhas filhas nadam. a mais nova leva nos braços bóias pequeninas, a outra dá um salto e põe à […]...
- Minha Terra A. J. Emídio Amaro Ó minha terra na planície rasa, Branca de sol e cal e de luar, Minha terra […]...
- Elegia Marítima Nasceu da terra. Seu corpo, feito do limo das grutas, surgiu cavalgando um rio por uma estrada de luas. Através […]...
- O Livro dos Amantes I Glorifiquei-te no eterno. Eterno dentro de mim fora de mim perecível. Para que desses um sentido a uma sede […]...
- Vocação de Poeta Recentemente, ao repousar Sob essa folhagem Ouvi bater, tiquetaque, Suavemente, como em compasso. Aborrecido, fiz uma careta, Depois, abandonando-me, Acabei, […]...
- Poesia Depois da Chuva A Maria Guiomar Depois da chuva o Sol – a graça. Oh! a terra molhada iluminada! E os regos de […]...
- Para um Amigo Tenho Sempre Para um amigo tenho sempre um relógio esquecido em qualquer fundo de algibeira. Mas esse relógio não marca o tempo […]...
- Carrego as Estações Comigo Carrego as estações comigo e tenho as mãos cansadas. No bolso esquerdo um riacho murmura. Ali, onde pequenas pedras se […]...
- Sobre o Caminho Nada nem o branco fogo do trigo nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros te dirão a palavra Não […]...
- Sinfonia de Cor Sempre defronte de mim o mar azul, o mar imenso, o mar sem fim, todo igual e azul até ao […]...
- Alma Serena Alma serena, a consciência pura, assim eu quero a vida que me resta. Saudade não é dor nem amargura, dilui-se […]...
- A Poesia Difícil, estreita passagem, força quente perscrutada, corpo de névoa, de imagem, com sulcos de tatuagem, voz absoluta escutada… Destino de […]...
- O Pão Não é ainda um seio mas quase. Na brancura. Porém, onda de leite a branca levedura. Um mecanismo incerto de […]...
- Seleccionei para Ti Seleccionei para ti esta manhã de setembro à margem dela trabalho para que em canto e glória sejas o centro […]...
- Canção da Minha Tristeza Meu coração não está nas largas avenidas nem repousa à tarde, para lá do rio. Nada acontece. Nada. Nem, ao […]...
- Chegada a Hora o Sonho Será Terra Chegada a hora o sonho será terra, o medo dará seu último vintém, e o passado e o futuro serão […]...
- Criação Há no amor um momento de grandeza, que é de inconsciência e de êxtase bendito: os dois corpos são toda […]...
- As Causas Todas as gerações e os poentes. Os dias e nenhum foi o primeiro. A frescura da água na garganta De […]...
- Versos para a Patrícia 1. Ilha Tenho a sede das ilhas e esquece-me ser terra Meu amor, aconchega-me meu amor, mareja-me Depois, não me […]...
- Neblina Um dedo a bordo aponta a neblina sentada, sustentada sobre o topo do monte. O céu está todo azul, com […]...
- Tu És em Mim Profunda Primavera O sabor da tua boca e a cor da tua pele, pele, boca, fruta minha destes dias velozes, diz-me, sempre […]...
- Ó Noite, Coalhada nas Formas de um Corpo de Mulher Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher vago e belo e voluptuoso, num bailado erótico, com o […]...
- No meu Prato que Mistura de Natureza! No meu prato que mistura de Natureza! As minhas irmãs as plantas, As companheiras das fontes, as santas A quem […]...
- Já não Vivi, Só Penso Já não vivo, só penso. E o pensamento é uma teia confusa, complicada, uma renda subtil feita de nada: de […]...
- Carta à Minha Filha Lembras-te de dizer que a vida era uma fila? Eras pequena e o cabelo mais claro, mas os olhos iguais. […]...
- Canção da Inocência Perdida 1 O que a minha mãe dizia Não pode ser bem verdade: Que uma vez emporcalhada Nunca passa a sujidade. […]...