Poesia Portuguesa

Poemas em Português



Poema Os Sinos

1

Os sinos tocam a noivado,
No Ar lavado!
Os sinos tocam, no Ar lavado,
A noivado!

Que linda criança que assoma na rua!
Que linda, a andar!
Em extasi, o povo commenta que é a Lua,
Que vem a andar…

Tambem, algum dia, o povo na rua,
Quando eu cazar,
Ao ver minha noiva, dirá que é a Lua
Que vae cazar…

2

E o sino toca a baptizado
Que lindo fado?
E o sino toca um lindo fado,
A baptizado!

E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o lavar,
E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o sujar.

Ó boa madrinha, que o enxugas de leve,
Tem dó d’esses gritos! Comprehende esses ais:
Antes o enxugue a Velha! antes Deus t’o leve!
Não soffre mais…

3

Os sinos dobram por anjinho,
Coitadinho!
Os sinos dobram, coitadinho…
Pelo anjinho!

Que aceiada que vae p’ra cova!
Olhae! olhae!
Sapatinhos de sola nova,
Olhae! olhae!

Ó lindos sapatos de solinha nova,
Bailae! bailae!
Nas eiras que rodam debaixo da cova…
Bailae! bailae!

4

O sino toca p’ra novena,
Gratiae plena,
E o sino toca, Gratiae plena,
P’ra novena.

Ide, meninas, á ladainha,
Ide rezar!
Pensae nas almas como a minha…
Ide rezar!

Se, um dia, me deres alguma filhinha,
Ó Mãe dos Afflictos! ella ha-de ir, tambem:
Ha-de ir ás novenas, assim, á tardinha,
Com sua mãe…

5

E o sino chama ao Senhor-fóra,
A esta hora!
Os sinos clamam, a esta hora,
Ao Senhor-fóra!

Accendei, vizinhos, as velas,
Allumiae!
Velas de cera nas janellas!
Allumiae!

E luas e estrellas tambem poem velas,
A allumiar!
E a Alminha, a esta hora, já está entre ellas,
A allumiar…

6

E os sinos dobram a defuntos,
Todos juntos!
E os sinos dobram, todos juntos,
A defuntos!

Que triste ver amortalhados!
Senhor! Senhor!
Que triste ver olhos fechados!
Senhor! Senhor!

Que pena me fazem os amortalhados,
Vestidos de preto, deitados de costas…
E de olhos fechados! e de olhos fechados!
E de mãos postas!

E os sinos dobram a defuntos,
Dlin! dlang! dling! dlong!
E os sinos dobram, todos juntos,
Dlong! dlin! dling! dlong


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Poema Os Sinos - António Nobre