Poema Os Sinos
1
Os sinos tocam a noivado,
No Ar lavado!
Os sinos tocam, no Ar lavado,
A noivado!
Que linda criança que assoma na rua!
Que linda, a andar!
Em extasi, o povo commenta que é a Lua,
Que vem a andar…
Tambem, algum dia, o povo na rua,
Quando eu cazar,
Ao ver minha noiva, dirá que é a Lua
Que vae cazar…
2
E o sino toca a baptizado
Que lindo fado?
E o sino toca um lindo fado,
A baptizado!
E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o lavar,
E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o sujar.
Ó boa madrinha, que o enxugas de leve,
Tem dó d’esses gritos! Comprehende esses ais:
Antes o enxugue a Velha! antes Deus t’o leve!
Não soffre mais…
3
Os sinos dobram por anjinho,
Coitadinho!
Os sinos dobram, coitadinho…
Pelo anjinho!
Que aceiada que vae p’ra cova!
Olhae! olhae!
Sapatinhos de sola nova,
Olhae! olhae!
Ó lindos sapatos de solinha nova,
Bailae! bailae!
Nas eiras que rodam debaixo da cova…
Bailae! bailae!
4
O sino toca p’ra novena,
Gratiae plena,
E o sino toca, Gratiae plena,
P’ra novena.
Ide, meninas, á ladainha,
Ide rezar!
Pensae nas almas como a minha…
Ide rezar!
Se, um dia, me deres alguma filhinha,
Ó Mãe dos Afflictos! ella ha-de ir, tambem:
Ha-de ir ás novenas, assim, á tardinha,
Com sua mãe…
5
E o sino chama ao Senhor-fóra,
A esta hora!
Os sinos clamam, a esta hora,
Ao Senhor-fóra!
Accendei, vizinhos, as velas,
Allumiae!
Velas de cera nas janellas!
Allumiae!
E luas e estrellas tambem poem velas,
A allumiar!
E a Alminha, a esta hora, já está entre ellas,
A allumiar…
6
E os sinos dobram a defuntos,
Todos juntos!
E os sinos dobram, todos juntos,
A defuntos!
Que triste ver amortalhados!
Senhor! Senhor!
Que triste ver olhos fechados!
Senhor! Senhor!
Que pena me fazem os amortalhados,
Vestidos de preto, deitados de costas…
E de olhos fechados! e de olhos fechados!
E de mãos postas!
E os sinos dobram a defuntos,
Dlin! dlang! dling! dlong!
E os sinos dobram, todos juntos,
Dlong! dlin! dling! dlong