Poema Noutes de Chuva
Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno – já sem rosas! –
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!
N’essas noutes sem luz, que – visionarios –
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!
Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,-
E os mortos corações sob as raizes!
N’essas noutes, meu bem! em que desfeito
Cae o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas!
N’essas noutes, electricas, nervosas,
Todas cheias d’aromas outonaes,
Que a tristeza tem formas monstruosas
Como n’um sonho os porticos claustraes.
Noutes só em que o sabio acha prazeres,
– Tão ignorados dos crueis profanos! –
E em que as nervosas, mysticas mulheres,
Desfallecem chorando nos pianos.
N’essas noutes, meu bem! é que os poetas
Tem ás vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheam suas obras predilectas…
– E evocam rostos… e visões distantes!