Poema Madrigal Excentrico
Tu que não temes a Morte,
Nem a sombra dos cyprestes,
Escuta, Lyrio do Norte,
Os meus canticos agrestes:
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Tu ignoras os desgostos
D’um coração torturado,
Mais tristes do que os soes postos,
Ou de que um bobo espancado!
Eu bem sei, ó Musa louca
Que não conheces a magoa…
E tens um riso na boca
Como um cravo aberto n’agua…
Eu bem sei… bem sei que ris
Dos meus madrigaes modernos.
Sem cuidar, ó flor de liz!
Que hão de chegar-te os invernos!
Que nos corre a Mocidade,
Qual folha verde do val,
E ha de vir-te a tempestade,
Ó branco lyrio real!
Que has de ser como a açucena
Varrida pelo nordeste…
E os prantos da minha pena
Que hão de regar teu cypreste!
Que ha de a terra agreste e dura
Servir-te de ultimo leito…
E a pedra da sepultura
Quebrar teu corpo perfeito!
E has de, emfim, ser devorada
Na fria noute, entre os bichos…
Ó tu que andas adorada,
Como as santas sobre os nichos!…
– Eu bem sei que te não does
Do meu coração ralado,
E fazes aos rouxinoes
Parodias sobre o teclado.
Que amas ver – como n’um drama,
O meu coração ferido,
Como um gladiador de fama,
Sobre um theatro vencido.
– Ah! mas eu que já estou velho…
Carcomido como a Cruz…
Digo adeus ao ceu vermelho…
E às boas tardes de luz!
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Adeus, adeus, ó Amor!
Sinistra farça divina,
Mais sonoro que o tambor
De bohemia bailarina!
Adeus, adeus, ó outomno!
Vão-se as folhas amarellas!…
Sinto-me cair de somno,
Olhando para as estrellas!
Sigam todos os meus rastros!…
Andei errado o caminho!
E sinto-me ebrio dos astros
Como um bebado de vinho!
Adeus, adeus rola amada!
Não chores a minha viagem…
Vou hospedar-me no Nada,
Como na boa estalagem!
Adeus, adeus, Mocidade!
Já chega o inverno do Mal!…
Vae despir-te a Tempestade
Nevado lyrio real!
Chegou a noite fechada!
Adeus tardes das janellas!
– Pintai-me agora no Nada
Sobre as tristes aquarellas!