Poesia Portuguesa

Poemas em Português

Se te Queres Matar

Se te queres matar, por que não te queres matar? Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e […]

Esta Velha Angústia

Esta velha angústia, Esta angústia que trago há séculos em mim, Transbordou da vasilha, Em lágrimas, em grandes imaginações, Em […]

Não Estou Pensando em Nada

Não estou pensando em nada E essa coisa central, que é coisa nenhuma, É-me agradável como o ar da noite, […]

O Esplendor

E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta, Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha. O […]

O Frio Especial

O frio especial das manhãs de viagem, A angústia da partida, carnal no arrepanhar Que vai do coração à pele, […]

Estou Cansado

Estou cansado, é claro, Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei: […]

Ora Até que Enfim

Ora até que enfim…, perfeitamente… Cá está ela! Tenho a loucura exatamente na cabeça. Meu coração estourou como uma bomba […]

Gostava de Gostar de Gostar

Gostava de gostar de gostar. Um momento… Dá-me de ali um cigarro, Do maço em cima da mesa de cabeceira. […]

Magnificat

Quando é que passará esta noite interna, o universo, E eu, a minha alma, terei o meu dia? Quando é […]

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã… Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; […]

Insónia

Não durmo, nem espero dormir. Nem na morte espero dormir. Espera-me uma insónia da largura dos astros, E um bocejo […]

O Ter Deveres

O ter deveres, que prolixa coisa! Agora tenho eu que estar à uma menos cinco Na Estação do Rossio, tabuleiro […]

Que Noite Serena!

Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Suave, todo o passado – o que foi […]

A Casa Branca Nau Preta

Estou reclinado na poltrona, é tarde, o Verão apagou-se… Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cérebro… Não […]

Ah, um Soneto

Meu coração é um almirante louco que abandonou a profissão do mar e que a vai relembrando pouco a pouco […]

Reticências

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção. Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo […]

Gazetilha

Dos LLOYD GEORGES da Babilônia Não reza a história nada. Dos Briands da Assíria ou do Egito, Dos Trotskys de […]

A Sensibilidade Humanizada

Que lindos olhos de azúl inocente os do pequenito do agiota! Santo Deus, que entroncamento esta vida! Tive sempre, feliz […]

Realidade

Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos… Nada está mudado – ou, pelo menos, não dou por isto – Nesta […]

Nuvens

No dia triste o meu coração mais triste que o dia… Obrigações morais e civis? Complexidade de deveres, de consequências? […]

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço – Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: […]

Lisboa

Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias […]

O Descalabro

O descalabro a ócio e estrelas… Nada mais… Farto… Arre… Todo o mistério do mundo entrou para a minha vida […]

O Mesmo

O mesmo Teucro duce et auspice Teucro É sempre cras – amanhã – que nos faremos ao mar. Sossega, coração […]

Eu que me Aguente Comigo

Contudo, contudo, Também houve gládios e flâmulas de cores Na Primavera do que sonhei de mim. Também a esperança Orvalhou […]

Bicarbonato de Soda

Súbita, uma angústia… Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma! Que amigos que tenho tido! Que vazias de […]

Là-bas, Je Ne Sais Où

Véspera de viagem, campainha… Não me sobreavisem estridentemente! Quero gozar o repouso da gare da alma que tenho Antes de […]

Ode Marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão, Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido, Olho e contenta-me […]

Há Mais de Meia Hora

Há mais de meia hora Que estou sentado à secretária Com o único intuito De olhar para ela. (Estes versos […]

Domingo Irei

Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros, Contente da minha anonimidade. Domingo serei feliz – eles, eles… Domingo… […]

O Sono

O sono que desce sobre mim, O sono mental que desce fisicamente sobre mim, O sono universal que desce individualmente […]

Passagem das Horas

Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, […]

Tabacaria

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos […]

Cruz na Porta

Cruz na porta da tabacaria! Quem morreu? O próprio Alves? Dou Ao diabo o bem-estar que trazia. Desde ontem a […]

Ode Marcial

Inúmero rio sem água – só gente e coisa, Pavorosamente sem água! Soam tambores longínquos no meu ouvido E eu […]

Símbolos

Símbolos? Estou farto de símbolos… Mas dizem-me que tudo é símbolo, Todos me dizem nada. Quais símbolos? Sonhos. – Que […]

Tenho uma Grande Constipação

Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos […]

Depus a Máscara

Depus a máscara e vi-me ao espelho. – Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada… É […]

No Fim

No fim de tudo dormir. No fim de quê? No fim do que tudo parece ser…, Este pequeno universo provinciano […]

Ao Volante

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase […]

A Frescura

Ah a frescura na face de não cumprir um dever! Faltar é positivamente estar no campo! Que refúgio o não […]

Acaso

No acaso da rua o acaso da rapariga loira. Mas não, não é aquela. A outra era noutra rua, noutra […]

Nas Praças

Nas praças vindouras – talvez as mesmas que as nossas – Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos […]

Estou Tonto

Estou tonto, Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar, Ou de ambas as coisas. O que sei é que […]

Encostei-me

Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos, E o meu destino apareceu-me na alma como um […]

De la Musique

Ah, pouco a pouco, entre as árvores antigas, A figura dela emerge e eu deixo de pensar… Pouco a pouco, […]

Lisbon Revisited (1923)

NÃO: Não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. […]

Dactilografia

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, Firmo o projeto, aqui isolado, Remoto até de quem eu sou. […]

A Verdadeira Liberdade

A liberdade, sim, a liberdade! A verdadeira liberdade! Pensar sem desejos nem convicções. Ser dono de si mesmo sem influência […]

Os Antigos

Os antigos invocavam as Musas. Nós invocamo-nos a nós mesmos. Não sei se as Musas apareciam – Seria sem dúvida […]

Quero Acabar

Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância. Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio. Falem pouco, devagar. Que […]

Psiquetipia

Símbolos. Tudo símbolos Se calhar, tudo é símbolos… Serás tu um símbolo também? Olho, desterrado de ti, as tuas mãos […]

Acordar

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, Acordar da Rua do Ouro, Acordar do Rocio, às […]

O Tumulto

O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual… Fazer filhos à razão prática, como os crentes enérgicos… Minha juventude perpétua De […]

Dobrada à Moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário […]

Barrow-on-Furness

I Sou vil, sou reles, como toda a gente Não tenho ideais, mas não os tem ninguém. Quem diz que […]

É Inútil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço […]

Na Noite Terrível

Na noite terrível, substância natural de todas as noites, Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites, […]

O Florir

O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos… O único olhar sem interesse recebido no acaso […]

Pecado Original

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da […]

Ode Triunfal

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a […]

Vilegiatura

O sossego da noite, na vilegiatura no alto; O sossego, que mais aprofunda O ladrar esparso dos cães de guarda […]

Faróis

Faróis distantes, De luz subitamente tão acesa, De noite e ausência tão rapidamente volvida, Na noite, no convés, que conseqüências […]

Não, não é Cansaço

Não, não é cansaço… É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar, E um domingo […]

Sou Lúcido

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe […]

Mestre

Mestre, meu mestre querido, Coração do meu corpo intelectual e inteiro! Vida da origem da minha inspiração! Mestre, que é […]

Nunca, por Mais

Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça O sair de um lugar, o chegar a um lugar, conhecido […]

Não: Devagar

Não: devagar. Devagar, porque não sei Onde quero ir. Há entre mim e os meus passos Uma divergência instintiva. Há […]

Lisbon Revisited (1926)

Nada me prende a nada. Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. Anseio com uma angústia de fome de carne O […]

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, […]

Dois Excertos de Odes

(Fins de duas odes, naturalmente) I Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao […]

Às Vezes Tenho Idéias Felizes

Às vezes tenho idéias felizes, Idéias subitamente felizes, em idéias E nas palavras em que naturalmente se despegam… Depois de […]

Mas Eu

Mas eu, em cuja alma se refletem As forças todas do universo, Em cuja reflexão emotiva e sacudida Minuto a […]

A Praça

A praça da Figueira de manhã, Quando o dia é de sol (como acontece Sempre em Lisboa), nunca em mim […]

Na Casa Defronte

Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade há sempre! Moram ali pessoas que desconheço, que já […]

Aproveitar o Tempo

Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? Aproveitar o tempo! Nenhum dia sem linha… […]

O Dia Deu em Chuvoso

O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, esteve bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava […]

Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção […]

A Fernando Pessoa

(Depois de ler seu drama estático “O marinheiro” em “Orfeu I”) Depois de doze minutos Do seu drama O Marinheiro, […]

Demogorgon

Na rua cheia de sol vago há casas paradas e gente que anda. Uma tristeza cheia de pavor esfria-me. Pressinto […]

Eu

Eu, eu mesmo… Eu, cheio de todos os cansaços Quantos o mundo pode dar. – Eu… Afinal tudo, porque tudo […]

Opiário

Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro É antes do ópio que a minh’alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola […]

A Minha Alma Partiu-se

A minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu pela escada excessivamente abaixo. Caiu das mãos da criada descuidada. Caiu, […]