Se te Queres Matar
Se te queres matar, por que não te queres matar? Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e […]
Poemas em Português
Se te queres matar, por que não te queres matar? Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e […]
Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, Perante esta única realidade terrível – a de haver uma realidade, […]
Esta velha angústia, Esta angústia que trago há séculos em mim, Transbordou da vasilha, Em lágrimas, em grandes imaginações, Em […]
Não estou pensando em nada E essa coisa central, que é coisa nenhuma, É-me agradável como o ar da noite, […]
Ali não havia eletricidade. Por isso foi à luz de uma vela mortiça Que li, inserto na cama, O que […]
E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta, Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha. O […]
O frio especial das manhãs de viagem, A angústia da partida, carnal no arrepanhar Que vai do coração à pele, […]
Estou cansado, é claro, Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei: […]
Ora até que enfim…, perfeitamente… Cá está ela! Tenho a loucura exatamente na cabeça. Meu coração estourou como uma bomba […]
Gostava de gostar de gostar. Um momento… Dá-me de ali um cigarro, Do maço em cima da mesa de cabeceira. […]
Quando é que passará esta noite interna, o universo, E eu, a minha alma, terei o meu dia? Quando é […]
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã… Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; […]
Não durmo, nem espero dormir. Nem na morte espero dormir. Espera-me uma insónia da largura dos astros, E um bocejo […]
O ter deveres, que prolixa coisa! Agora tenho eu que estar à uma menos cinco Na Estação do Rossio, tabuleiro […]
Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Suave, todo o passado – o que foi […]
Conclusão a sucata!… Fiz o cálculo, Saiu-me certo, fui elogiado… Meu coração é um enorme estrado Onde se expõe um […]
Estou reclinado na poltrona, é tarde, o Verão apagou-se… Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cérebro… Não […]
Meu coração é um almirante louco que abandonou a profissão do mar e que a vai relembrando pouco a pouco […]
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção. Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo […]
Dos LLOYD GEORGES da Babilônia Não reza a história nada. Dos Briands da Assíria ou do Egito, Dos Trotskys de […]
Que lindos olhos de azúl inocente os do pequenito do agiota! Santo Deus, que entroncamento esta vida! Tive sempre, feliz […]
Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos… Nada está mudado – ou, pelo menos, não dou por isto – Nesta […]
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, Porque todas as […]
No dia triste o meu coração mais triste que o dia… Obrigações morais e civis? Complexidade de deveres, de consequências? […]
O que há em mim é sobretudo cansaço – Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: […]
Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias […]
O descalabro a ócio e estrelas… Nada mais… Farto… Arre… Todo o mistério do mundo entrou para a minha vida […]
No lugar dos palácios desertos e em ruínas À beira do mar, Leiamos, sorrindo, os segredos dos sinais De quem […]
O mesmo Teucro duce et auspice Teucro É sempre cras – amanhã – que nos faremos ao mar. Sossega, coração […]
Contudo, contudo, Também houve gládios e flâmulas de cores Na Primavera do que sonhei de mim. Também a esperança Orvalhou […]
Súbita, uma angústia… Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma! Que amigos que tenho tido! Que vazias de […]
Véspera de viagem, campainha… Não me sobreavisem estridentemente! Quero gozar o repouso da gare da alma que tenho Antes de […]
Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão, Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido, Olho e contenta-me […]
Há mais de meia hora Que estou sentado à secretária Com o único intuito De olhar para ela. (Estes versos […]
Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros, Contente da minha anonimidade. Domingo serei feliz – eles, eles… Domingo… […]
Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima, Começam chegando os primitivos da espera, Já ao longe o paquete […]
O sono que desce sobre mim, O sono mental que desce fisicamente sobre mim, O sono universal que desce individualmente […]
Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, […]
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos […]
Cruz na porta da tabacaria! Quem morreu? O próprio Alves? Dou Ao diabo o bem-estar que trazia. Desde ontem a […]
Inúmero rio sem água – só gente e coisa, Pavorosamente sem água! Soam tambores longínquos no meu ouvido E eu […]
Símbolos? Estou farto de símbolos… Mas dizem-me que tudo é símbolo, Todos me dizem nada. Quais símbolos? Sonhos. – Que […]
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos […]
Depus a máscara e vi-me ao espelho. – Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada… É […]
Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo, A banalidade devorante das caras de toda a gente! […]
No fim de tudo dormir. No fim de quê? No fim do que tudo parece ser…, Este pequeno universo provinciano […]
Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto Que disfarçam […]
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase […]
Ah a frescura na face de não cumprir um dever! Faltar é positivamente estar no campo! Que refúgio o não […]
No acaso da rua o acaso da rapariga loira. Mas não, não é aquela. A outra era noutra rua, noutra […]
Nas praças vindouras – talvez as mesmas que as nossas – Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos […]
Estou tonto, Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar, Ou de ambas as coisas. O que sei é que […]
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos, E o meu destino apareceu-me na alma como um […]
Ah, pouco a pouco, entre as árvores antigas, A figura dela emerge e eu deixo de pensar… Pouco a pouco, […]
Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade […]
NÃO: Não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. […]
Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, Firmo o projeto, aqui isolado, Remoto até de quem eu sou. […]
A liberdade, sim, a liberdade! A verdadeira liberdade! Pensar sem desejos nem convicções. Ser dono de si mesmo sem influência […]
Os antigos invocavam as Musas. Nós invocamo-nos a nós mesmos. Não sei se as Musas apareciam – Seria sem dúvida […]
Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância. Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio. Falem pouco, devagar. Que […]
Símbolos. Tudo símbolos Se calhar, tudo é símbolos… Serás tu um símbolo também? Olho, desterrado de ti, as tuas mãos […]
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, Acordar da Rua do Ouro, Acordar do Rocio, às […]
O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual… Fazer filhos à razão prática, como os crentes enérgicos… Minha juventude perpétua De […]
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário […]
I Sou vil, sou reles, como toda a gente Não tenho ideais, mas não os tem ninguém. Quem diz que […]
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu […]
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço […]
Na noite terrível, substância natural de todas as noites, Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites, […]
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos… O único olhar sem interesse recebido no acaso […]
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da […]
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a […]
O sossego da noite, na vilegiatura no alto; O sossego, que mais aprofunda O ladrar esparso dos cães de guarda […]
Faróis distantes, De luz subitamente tão acesa, De noite e ausência tão rapidamente volvida, Na noite, no convés, que conseqüências […]
A plácida face anónima de um morto. Assim os antigos marinheiros portugueses, Que temeram, seguindo contudo, o mar grande do […]
Não, não é cansaço… É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar, E um domingo […]
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe […]
Mestre, meu mestre querido, Coração do meu corpo intelectual e inteiro! Vida da origem da minha inspiração! Mestre, que é […]
Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça O sair de um lugar, o chegar a um lugar, conhecido […]
Não: devagar. Devagar, porque não sei Onde quero ir. Há entre mim e os meus passos Uma divergência instintiva. Há […]
Nada me prende a nada. Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. Anseio com uma angústia de fome de carne O […]
Venho dos lados de Beja. Vou para o meio de Lisboa. Não trago nada e não acharei nada. Tenho o […]
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, […]
(Fins de duas odes, naturalmente) I Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao […]
Às vezes tenho idéias felizes, Idéias subitamente felizes, em idéias E nas palavras em que naturalmente se despegam… Depois de […]
Na véspera de não partir nunca Ao menos não há que arrumar malas Nem que fazer planos em papel, Com […]
Mas eu, em cuja alma se refletem As forças todas do universo, Em cuja reflexão emotiva e sacudida Minuto a […]
Começa a haver meia-noite, e a haver sossego, Por toda a parte das coisas sobrepostas, Os andares vários da acumulação […]
A praça da Figueira de manhã, Quando o dia é de sol (como acontece Sempre em Lisboa), nunca em mim […]
Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade há sempre! Moram ali pessoas que desconheço, que já […]
Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? Aproveitar o tempo! Nenhum dia sem linha… […]
O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, esteve bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava […]
Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair […]
Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção […]
(Depois de ler seu drama estático “O marinheiro” em “Orfeu I”) Depois de doze minutos Do seu drama O Marinheiro, […]
Na rua cheia de sol vago há casas paradas e gente que anda. Uma tristeza cheia de pavor esfria-me. Pressinto […]
Eu, eu mesmo… Eu, cheio de todos os cansaços Quantos o mundo pode dar. – Eu… Afinal tudo, porque tudo […]
Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro É antes do ópio que a minh’alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola […]
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, […]
Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados O esplendor do sentido nenhum da vida… Toquem num arraial a marcha fúnebre […]
A minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu pela escada excessivamente abaixo. Caiu das mãos da criada descuidada. Caiu, […]