Poesia Portuguesa

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Poema Recusa

a Alberto de Serpa

Serei sempre um poeta provinciano.
Um poeta triste, esquivo,
Com medo de apertar a mão aos poetas da cidade
E de me sentar com eles
À mesa do Café.
Não falarei de minha poesia.
Não rimarei minha angústia
Com a solenidade de suas questões.
A poesia não está na discussão.
A poesia não está no não estar com este ou com aquele.
A poesia está em matar esta morte
Que anda dentro de nós
Para que a vida renasça.
A poesia está em gritar do alto dos arranha-céus
E das planuras e concavidades sertanejas
Que o mundo vai acabar
Que o mundo está maduro para o sangue
Que o mundo perverso e caótico vai vagar.
Serei sempre um poeta provinciano.
Um poeta esquivo defendendo sua solidão
De todos os truques de todos os ódios de todas as invejas.
Os poetas rendilheiros não perdoarão.
Os poetas vaidosos vão barafustar
E exigir a expulsão imediata
Do último vendilhão do Templo,
Em nome da religião,
Em nome da estética,
Em nome da dignidade amarfanhada,
Em nome da polícia se preciso for.
Serei sempre um poeta provinciano.
Um poeta esquivo anunciando a verdade
A repassar de gelo os corações narcotizados.
Os poetas rendilheiros não perdoarão.
Os poetas vaidosos vão barafustar,
Porque o fim do mundo está próximo.
Os poetas rendilheiros e os poetas vaidosos estão maduros para o sangue.
Já estão cevados para a morte.
Eles esquecem (perdão, não é blasfémia!) a sentença do Cristo:
– “Destruí este Templo e eu o reedificarei em três dias.”


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Poema Recusa - Vasco Miranda