Poema Pretendo germinar nas fronteiras dos deslimites
Pretendo germinar nas fronteiras dos deslimites.
Contemplo as mãos. Ocupam a chave, longa e nocturna,
constelada de um mapa que é de todo génese.
Em volta o mundo converte-se em paisagem estável.
Há uma bíblia no parapeito da janela.
Tudo está levantado como o êxtase de uma melodia
e no entanto é o remanso que vai esculpindo
os degraus da imaginação.
As minhas mãos fazem um gesto dentro da imobilidade real.
A invasão dos espaços pelo eco imaginário
identifica-se com a cabeça teórica do sono completo.
Não procuro mais do que ver.
Ver,
olhar, contemplar
as mãos que encerram todos os instrumentos
e ferramentas do ser.
Pretendo germinar nas fronteiras dos deslimites,
e nos meus deslimites principais
sou um papel na sua cegueira branca.





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