Poema Fala Também Tu
Fala também tu,
fala em último lugar,
diz a tua sentença.
Fala –
Mas não separes o Não do Sim.
Dá à tua sentença igualmente o sentido:
dá-lhe a sombra.
Dá-lhe sombra bastante,
dá-lhe tanta
quanta exista à tua volta repartida entre
a meia-noite e o meio-dia e a meia-noite.
Olha em redor:
como tudo revive à tua volta! –
Pela morte! Revive!
Fala verdade quem diz sombra.
Mas agora reduz o lugar onde te encontras:
Para onde agora, oh despido de sombra, para onde?
Sobe. Tacteia no ar.
Tornas-te cada vez mais delgado, irreconhecível, subtil!
Mais subtil: um fio,
por onde a estrela quer descer:
para em baixo nadar, em baixo,
onde pode ver-se a cintilar: na ondulação
das palavras errantes.





Mais poemas:
- Quando Ela Fala Quando ela fala, parece Que a voz da brisa se cala; Talvez um anjo emudece Quando ela fala. Meu coração […]...
- Fala de Mãe e Filho “Meu filho: onde vais que tens do rio o caminhar?” Não espreites a estrada, mãe, que eu nasci onde o […]...
- A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e […]...
- Poema da Voz que Escuta Chamam-me lá em baixo. São as coisas que não puderam decorar-me: As que ficaram a mirar-me longamente E não acreditaram; […]...
- Fala do Homem Nascido (Chega à boca da cena, e diz:) Venho da terra assombrada, do ventre de minha mãe; não pretendo roubar nada […]...
- Gritar Aqui a acção simplifica-se Derrubei a paisagem inexplicável da mentira Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes Lancei […]...
- Mãe I Dantes, quando a deixava, As férias já no fim, Ela vinha à janela Despedir-se de mim. Depois, quando na […]...
- É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma Não basta abrir a janela Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego Para ver […]...
- A Leitora A leitora abre o espaço num sopro subtil. Lê na violência e no espanto da brancura. Principia apaixonada, de surpresa […]...
- Também Eu Trago a Saudade Também eu trago a saudade nos sentidos se dissesse que não era mentira Também eu perdi um cão casas rios […]...
- A Dor Que venha, refúgio ou insónia, futuro antigo e comece no campo ou no flanco, à direita, onde consome a alma, […]...
- Também o que é Eterno Também o que é eterno morre um dia. Eu tusso e sinto a dor que a tosse traz; O doutor […]...
- Volta até Mim no Silêncio da Noite Volta até mim no silêncio da noite a tua voz que eu amo, e as tuas palavras que eu não […]...
- Agora que as Palavras Secaram Agora que as palavras secaram e se fez noite entre nós dois, agora que ambos sabemos da irreversibilidade do tempo […]...
- Viver Sempre também Cansa Viver sempre também cansa. O sol é sempre o mesmo e o céu azul ora é azul, nitidamente azul, ora […]...
- Que Bem Sabe o Amor Constante Até no carro te canto, Fala a fala, seio a seio, Espantado de um encanto Que mais parece receio De […]...
- Um Grande Utensílio de Amor um grande utensílio de amor meia laranja de alegria dez toneladas de suor um minuto de geometria quatro rimas sem […]...
- 10 A nuvem anuncia a secura das casas. Um homem desloca-se devagar, atravessa uma plantação de café em silêncio, como as […]...
- Mimos para Elisa elisa. elisa tem ancas gordas e beiços carnudos. elisa gosta de telefonar ao noivo. sentada no so fá, com o […]...
- No Lugar dos Palácios Desertos No lugar dos palácios desertos e em ruínas À beira do mar, Leiamos, sorrindo, os segredos dos sinais De quem […]...
- Mito Virá o dia em que o jovem deus será um homem, sem sofrimento, com o morto sorriso do homem que […]...
- Rua de Camões A minha infância cheira a soalho esfregado a piaçaba aos chocolates do meu pai aos Domingos à camisa de noite […]...
- Cenário de Natal Sem o Natal Nenhuma estrela luz, com mais brilho no céu. Não oiço rumor d’asa ou de vagido É meia-noite já. E ainda […]...
- Sugestão As companheiras que não tive, Sinto-as chorar por mim, veladas, Ao pôr do sol, pelos jardins… Na sua mágoa azul […]...
- Ode aos Natais Esquecidos Eu vinha, pé ante pé, em busca da pequena porta que dava acesso aos mistérios da noite, daquela noite em […]...
- A Verdade A verdade é semelhante a uma adolescente vibrante, flexível, em radiosa sombra. Quando fala é a noite translúcida no mar […]...
- Os Anos de Ti para Mim O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos teus olhos pões a mesa do nosso amor: […]...
- Praia De repente esse sussurro de vozes no vento e não é o mar que fala. De repente essa esperança e […]...
- Como Podemos Esperar Como podemos esperar. Aguardar o que nossas mãos possam reter. Uma palavra. O olhar cúmplice. Se as coisas têm já […]...
- Noite de S. João Noite de S. João para além do muro do meu quintal. Do lado de cá, eu sem noite de S. […]...
- No Seu Tumulo Sobre o seu frio berço sepulcral, Meu espirito resa ajoelhado; E sente-se perfeito e virginal Na sua dôr divina concentrado. […]...
- Agora me Sinto Alegre e Inspirado Agora me sinto alegre e inspirado em chão clássico; Mundo de outrora e de hoje mais alto e atraente me […]...
- À Memória de Minha Mãe Mãe! Morreste! Agora é tão tarde para te dizer as palavras necessárias. O relógio bateu duas e meia. É noite […]...
- Ausencia Lúgubre solidão! Ó noite triste! Como sinto que falta a tua Imagem A tudo quanto para mim existe! Tua bemdita […]...
- Um Outro que Não Eu um outro que não eu bem mais voraz concreto e subtil te poderá depois talvez contar destes momentos cúmplices de […]...
- Metafísica 1 Não tenta nada de que se tivesse já esquecido; o seu objectivo, agora, é organizar o presente. 2 Com […]...
- A Noite na Ilha Dormi contigo toda a noite junto ao mar, na ilha. Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono, […]...
- Fímbria de Melancolia Fímbria de melancolia, memória incerta da dor, ouço-a no gravador, no fado que não se ouvia quando ouvia o seu […]...
- Defeito de Fabrico Quando nasci, trazia de origem um farol que despejava luz a jorros sobre o que quer que fosse, mormente sobre […]...
- Funeral Blues Parem todos os relógios, desliguem o telefone, Evitem o latido do cão com um osso suculento, Silenciem os pianos e […]...