Poema Parafuso
Sabem-me o rosto,
sabem-me os pés,
sabem-me a roupa.
Viram-me nu,
viram-me inteiro
no corpo imóvel.
Mas só me sabem,
mas só me vêem,
mas só me enterram:
inexistente,
alheio e estranho,
entrado em mim.





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