Poema Aos Filhos

Já nada nos pertence,
nem a nossa miséria.
O que vos deixaremos
a vós o roubaremos.

Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?

Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma glória teríamos
fôssemos ao menos infames.

Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!

(1 votes, average: 5,00 out of 5)

Mais poemas:

Os Filhos São Figuras Estremecidas Os filhos são figuras estremecidas e, quando dormem, a felicidade cerra-lhes as pálpebras, toca-lhes os lábios, ama-os sobre as camas. […]...
Que Glória tão Completa Que glória tão completa não estar nunca onde ela sobe da multidão. Que glória é ordem alastrando da estrutura pela […]...
Lamentação dos Filhos Do infinito nascemos para um termo preciso. De infindas, as penas, de vago, o aviso. Nados mornos, frágeis, de entre […]...
Finda A conclusão de tudo é só a morte e não há mais epílogo nem finda. Não se termina o verso […]...
Mortalmente Compramos Ter Mais Vida que a Vida A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, […]...
Pecado Original Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da […]...
Nossa Memória Nossa memória sempre foi a memória dos monstros nosso enigmático testamento de altas labaredas sempre foi o caminho devastado pelo […]...
A Meus Filhos A meus filhos desejo a curva do horizonte. E todavia deles tudo em mim desejo: o felino gosto de ver, […]...
Em Tudo quanto Olhei Fiquei em Parte Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa Se é para nós que cessa. Aquele arbusto Fenece, e […]...
Um Dia é Pouco ao Pé de Margarida A nossa intimidade a três ou quatro é constrangida. Tenho medo no ângor e uma urtiga no pé. Um dia […]...
A Neve A NEVE PÔS uma toalha calada sobre tudo. Não se sente senão o que se passa dentro de casa. Embrulho-me […]...
Deixa-me em Paz Nize, deixa-me em paz; porque já agora No mar de Amor, por mais que á vela saia, Carcaça velha sou, […]...
Luz entre Sombras É noite medonha e escura, Muda como o passamento* Uma só no firmamento Trêmula estrela fulgura. Fala aos ecos da […]...
Abnegação Chovam lírios e rosas no teu colo! Chovam hinos de glória na tua alma! Hinos de glória e adoração e […]...
A Despedida da Morte Falo de mim porque bem sei que a vida lava o meu rosto com o suor dos outros, que também […]...
Largo do Espírito Santo Nem mais, nem menos: tudo tal e qual o sonho desmedido que mantinhas. Só não sonharas estas andorinhas que temos […]...
Mais Há-de Perder quem Mais Alcança De vós me parto, ó vida, e em tal mudança Sinto vivo da morte o sentimento. Não sei para que […]...
Lágrima A cada hora o frio que o sangue leva ao coração nos gela como o rio do tempo aos derradeiros […]...
Morte não é a Esquálida Caveira Morte não é a esquálida caveira Dura, disforme, seca e carcomida: Ela um destroço é, uma caída Da abreviada, racional […]...
Onde Estará aquele Velho Álbum? Onde estará aquele velho álbum? A cena das fiandeiras sob as trombetas que o fechavam. Os ancestrais esperam… Seria um […]...
Elegia da Lembrança Impossível O que não daria eu pela memória De uma rua de terra com baixos taipais E de um alto ginete […]...
Tirem-me os Deuses o Amor, Glória e Riqueza Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, glória e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me […]...
Agora que as Palavras Secaram Agora que as palavras secaram e se fez noite entre nós dois, agora que ambos sabemos da irreversibilidade do tempo […]...
Memória Consentida Neste lugar sem tempo nem memória, nesta luz absoluta ou absurda, ou só escuridão total, relances há em que creio, […]...
De Memória Nunca te surpreendeu o sorriso estático das imagens antigas? Alguma coisa aqui tivemos de perder. Percorro dias e corpos na […]...
Não me Fales de Glória: é Outro o Altar Não me fales de glória: é outro o altar Onde queimo piedoso o meu incenso, E animado de fogo mais […]...
O Sono O sono que desce sobre mim, O sono mental que desce fisicamente sobre mim, O sono universal que desce individualmente […]...
A Tua Morte em Mim À memória de Raquel Moacir A tua morte é sempre nova em mim. Não amadurece. Não tem fim. Se ergo […]...
Eu Como, Eu Bebo, Eu Durmo Eu como, eu bebo, eu durmo e a vida passo Ora bem, ora mal, como sucede: Tomo tabaco, e chá; […]...
No Entardecer dos Dias de Verão No entardecer dos dias de Verão, às vezes, Ainda que não haja brisa nenhuma, parece Que passa, um momento, uma […]...
Ode ao Gato Tu e eu temos de permeio a rebeldia que desassossega, a matéria compulsiva dos sentidos. Que ninguém nos dome, que […]...
Lamento para a língua portuguesa não és mais do que as outras, mas és nossa, e crescemos em ti. nem se imagina que alguma vez […]...
Calmaria Nada! Horas e horas neste ponto morto Onde caiu agora a minha vida… Nem um desejo, ao menos! Só instintos […]...
Romance Para as Festas da Agonia Vi-te chegar, como havia Sonhado já que chegasses: Vinha teu vulto tão belo Em teu […]...
Quando Eu For Pequeno Quando eu for pequeno, mãe, quero ouvir de novo a tua voz na campânula de som dos meus dias inquietos, […]...
Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes Dizes-me: tu és mais alguma cousa Que uma pedra ou uma planta. Dizes-me: sentes, pensas e sabes Que pensas e […]...
Mãe Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha […]...
Amor Sem Fruto, Amor Sem Esperança Amor sem fruto, amor sem esperança É mais nobre, mais puro, Que o que, domando a ríspida esquivança, Jaz dos […]...
Certeza Única é o Mal Presente Pois que nada que dure, ou que, durando, Valha, neste confuso mundo obramos, E o mesmo útil para nós perdemos […]...
Reticências Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção. Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo […]...