Autor Manuel Bocage

Fiei-me nos sorrisos da ventura, Em mimos feminis, como fui louco! Vi raiar o prazer; porém tão pouco Momentâneo relâmpago […]

Marília, nos teus olhos buliçosos Os Amores gentis seu facho acendem; A teus lábios, voando, os ares fendem Terníssimos desejos […]

Olhos suaves, que em suaves dias Vi nos meus tantas vezes empregados; Vista, que sobra esta alma despedias Deleitosos farpões, […]

Já Bocage não sou!… À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento… Eu aos Céus ultrajei! O meu […]

De cerúleo gabão não bem coberto, passeia em Santarém chuchado moço, mantido, às vezes, de sucinto almoço, de ceia casual, […]

Amor sem fruto, amor sem esperança É mais nobre, mais puro, Que o que, domando a ríspida esquivança, Jaz dos […]

Meus olhos, atentai no meu jazigo, Que o momento da morte está chegado; Lá soa o corvo, intérprete do fado; […]

Tu, vã Filosofia, embora aviltes Os crentes nas visões do pensamento, Turvo clarão de raciocínios tristes Por entre sombras nos […]

Já sobre o coche de ébano estrelado, Deu meio giro a Noite escura e feia, Que profundo silêncio me rodeia […]

Ó trevas, que enlutais a Natureza, Longos ciprestes desta selva anosa, Mochos de voz sinistra e lamentosa, Que dissolveis dos […]

Oh retrato da morte, oh noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha do meu pranto, Des meus […]

A mãe, que em berço dourado Pôs teu corpo cristalino, É sup’rior ao Destino, Depois de te haver criado. Quando […]

Lusos heróis, cadáveres cediços, Erguei-vos dentre o pó, sombras honradas, Surgi, vinde exercer as mãos mirradas Nestes vis, nestes cães, […]

Nascemos para amar; a Humanidade Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. Tu és doce atractivo, ó Formosura, Que […]

Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado, Mansa corrente deleitos, amena, Em cuja praia o nome de Filena Mil […]

De insípida sessão no inútil dia Juntou-se do Parnaso a galegage; Em frase hirsuta, em gótica linguage, Belmiro um ditirambo […]

Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, […]

Tu, flor de Vénus, Corada Rosa, Leda, fragrante, Pura, mimosa, Tu, que envergonhas As outras flores, Tens menos graça Que […]

Se é doce no recente, ameno Estio Ver toucar-se a manhã de etéreas flores, E, lambendo as areias e os […]

Por esta solidão, que não consente Nem do sol, nem da lua a claridade, Ralado o peito pela saudade Dou […]

O ledo passarinho, que gorjeia D’alma exprimindo a cândida ternura; O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia; […]

Tenho assaz conservado o rosto enxuto Contra as iras do Fado omnipotente; Assaz contigo, ó Sócrates, na mente, À dor […]

Besta e mais besta! O positivo é nada… (Perdoa, se em gramática te falo, Arte que ignoras, como ignoras tudo.) […]

O céu, de opacas sombras abafado, Tornando mais medonha a noite fea, Mugindo sobre as rochas, que saltea, O mar, […]

Morre a luz, abafa os ares Horrendo, espesso negrume, Apenas surge do Averno A negra fúria Ciúme. Sobre um sólio […]

Em que estado, meu bem, por ti me vejo, Em que estado infeliz, penoso e duro! Delido o coração de […]

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero No inferno de suspeitas e temores. Eu da morte as angústias e os horrores Por […]

Se considero o triste abatimento Em que me faz jazer minha desgraça, A desesperação me despedaça, No mesmo instante, o […]

Com dura e branda cadeia, Com facho activo e suave, De seus mistérios co’a chave, Amor entre nós volteia: Já […]

A minha gratidão te dá meus versos: Meus versos, da lisonja não tocados, Satélites de Amor, Amor seguindo Co’as asas […]

Adamastor cruel! De teus furores Quantas vezes me lembro horrorizado! Ó monstro! Quantas vezes tens tragado Do soberbo Oriente os […]

O rei dos animais, o rugidor leão, Com o porco engraçou, não sei por que razão. Quis empregá-lo bem para […]

Magro, de olhos azuis, carão moreno, Bem servido de pés, meão na altura, Triste de facha, o mesmo de figura, […]

Raios não peço ao Criador do mundo, Tormentas não suplico ao rei dos mares, Vulcões à terra, furacões aos ares, […]

Aquele, a quem mil bens outorga o Fado, Desejo com razão da vida amigo Nos anos igualar Nestor, o antigo, […]

Meu ser evaporei na luta insana Do tropel de paixões que me arrastava: Ah! cego eu cria, ah! mísero eu […]