Poema As Profecias
(fragmentos)
I
depois de tudo
minha casa permanecerá nos fundos
minguantes novos
cidades mortas
ruas desconhecidas
barcos de vento
perdidos sons
foi lá que brinquei de longe
e perdi-me de mim
foi lá a primeira tosquia
quando me tiraram tudo
nem o leque
para afugentar a maturação
nem a haste
para defender-me das feras
nem o silêncio
para vestir-me no esquecimento
depois de tudo
minha casa permanecerá nos fundos
foi lá que brinquei de longe
e me perdi de mim
II
A flor abre-se em terra
para o forte a ser nosso.
Perto estamos
dos rios coagulados
de mel colhido aos tempos.
Perto estamos
da nocturna fé de ser impuro
benvinda das lonjuras.
Perto estamos dos infantes campos
junto ao longe tranquilo de viver.
Ouvi, solitárias meninas, solitários meninos:
o vento chão que varre os prados
onde somos horizontais,
afinal.
III
Trago a palma na mão, aqui estou,
ante o espaço maduro de não ser.
Passam os caminhos, lúcidos tão lúcidos,
que nem pressentirão
o doido curso de nunca ser.
Passam os caminhos
a gerar e gerar
a vindoura raça
a passar e passar.
Imóvel sobre o tronco do tempo
o vento pesa-nos desde ontem.
entre a colheita e o presságio,
o rio, o silêncio,
a geração comigo finda
e a esta cidade
que ninguém povoou
como o puro rebanho
à espera de abdicar.