Poema Culpabilidade
O que é o perdão?
Vivi na esperança
de o ter entre os dedos.
Quem diz que o alcança
só vive de enredos…
Fiz mal? Mas a quem?
Que venham contar-me
as mágoas geradas
por meu vil desdém
e as feridas mostrar-me
na carne rasgadas.
Fiz mal? Mas a quem?
Fui pedra lançada
no vosso caminho?
Barrei-vos a estrada
com traves de pinho?
Só sei que
há vozes gritando
a culpa que sinto
pesar-me na alma,
há ecos cavando
a dor que pressinto
em noites de calma…
Só sei que
suspensos enredos
da minha agonia,
urdida ao serão
em grande segredo,
tornaram vazia
a minha intuição.
Fiz mal? Sim ou não?
Onde e quando?
Dizei-mo, dizei-mo!
Eu sou como a rocha
virada prò norte,
que acolhe a rajada
em concha bem forte
e a atira prò nada…
Fiz mal? Sim ou não?
Até os duendes,
escondidos e aduncos,
me negam razão.
O que é que vós tendes?
Tremeis como os juncos
nas bordas do rio.
Escondeis-vos de mim,
do meu poderio?
Do meu poderio!
Ah! Ah! Ah!
Tesouros saídos
de cofre guardado
em cave nojenta,
demónios roídos
de querer aturado
em bolsa sangrenta?
Fiz mal? Mas a quem?
Àqueles que ainda
não viram a luz
das coisas imundas?
De ideias fecundas
fiz braços em cruz?
A treva gerada
em dúvida vã
que cobre a minha alma
andou apressada;
a todos levou
a ânsia e a calma
em Deus embarcou?
Fiz mal? Como e onde?
E quando? E quando?