Poema Na Aldeia
A Cristóvão Aires
Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados.
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.
A taberna é vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem à porta insectos variegados,
Envolvidos do sol na luz tremente.
Fia à soleira uma velhinha: o filho
No céu mal acordou da aurora o brilho
Saiu para os cansaços da lavoura.
A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.





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