Poema A uma Moça Vendendo Camoezas

Para a feira vai Luisa
co seu balaio à cabeça,
todo enramado de louro
e cheio de camoezas.

Leva saia de cilício,
também jubão branco leva,
que serve o jubão de branco
onde amor atira as flechas.

Sobre os dedos pendurados
levava os punhos da renda;
tão valentona caminha
que treme o bairro de vê-la.

Lá no meio do Rossio
levanta a voz mui serena
como se aprendera solfa:
– Eu já tenho camoezas!

(2 votes, average: 2,50 out of 5)

Mais poemas:

A Obra o Leva Depois de havê-lo feito, a obra o leva pela tarefa maior em que quase de si e dela se desprenda […]...
Menina e Moça Está naquela idade inquieta e duvidosa, Que não é dia claro e é já o alvorecer; Entreaberto botão, entrefechada rosa, […]...
Um Grande Utensílio de Amor um grande utensílio de amor meia laranja de alegria dez toneladas de suor um minuto de geometria quatro rimas sem […]...
Quero-te de Branco, Meu Amor Quero-te de branco, ou antes, modelada nas roupas que cosesses das bonecas, nos saltos, nos baloiços, nos degraus de uma […]...
O Sexo Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito, lentamente descida, sedimento e sede, subtilmente o acalma. Ancora que se desloca, […]...
Nenhuma outra Viajará pela Sombra Comigo Já és minha. Repousa com teu sono no meu sono. Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora. Gira a noite em […]...
Os Amantes Os amantes fecham-se um no outro (como os punhos do bebé que dorme no berço e no útero da mãe […]...
Prazo de Vida No meio do mundo faz frio, faz frio no meio do mundo, muito frio. Mandei armar o meu navio. Volveremos […]...
Maternidade Escuta, sorrindo, a morte que bate de leve em seu corpo com ávidos, doces punhos da infância; com beijos que […]...
Corro Após este Bem que não se Alcança Oh como se me alonga de ano em ano A peregrinação cansada minha! Como se encurta, e como ao fim […]...
Ode ao Gato Tu e eu temos de permeio a rebeldia que desassossega, a matéria compulsiva dos sentidos. Que ninguém nos dome, que […]...
Ao Tempo Levanta o pano, ó tragador das eras, A cena mostra das fatais desditas, Pois que no giro das paixões que […]...
O que é Viver? Viver é só sentir como a Morte caminha E como a Vida a quer e como a vida a chama… […]...
Morte Num imenso salão, alto e rotundo, De caveiras iguais, ossos sem dono, Perpétua habitação de eterno sono Que tem por […]...
Poema Explicativo Inúteis são os voos. Inúteis são os pássaros. Silenciosas sombras tudo extinguem. Como as vagas de um mar longínquo e […]...
Dá a Surpresa de Ser Dá a surpresa de ser. É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio […]...
Poema Quotidiano É tão depressa noite neste bairro Nenhum outro porém senhor administrador goza de tão eficiente serviço de sol Ainda não […]...
O Riso Por substituição das emoções a poesia recorda uma arte escura: vagares, caligrafia da estação que ondula, oscilação de um cálamo […]...
Eleição Sou eu e ela, aqui no bairro. Sós, Quando o luar me acorda e lhe prateia o lombo, Cantamos nós, […]...
Da Realidade Que renda fez a tarde no jardim, Que há cedros que parecem de enxoval? Como é difícil ver o natural […]...
O Ter Deveres O ter deveres, que prolixa coisa! Agora tenho eu que estar à uma menos cinco Na Estação do Rossio, tabuleiro […]...
Povo Povo que lavas no rio, Que vais às feiras e à tenda, Que talhas com teu machado As tábuas do […]...
O Perfume O que sou eu? – O Perfume, Dizem os homens. – Serei. Mas o que sou nem eu sei… Sou […]...
Acendem-se as Luzes Acendem-se as luzes nas ruas da cidade. Ainda há claridade ao alto das cruzes da igreja da praça e para […]...
Este é o Prólogo Deixaria neste livro toda minha alma. Este livro que viu as paisagens comigo e viveu horas santas. Que compaixão dos […]...
O Sol na Água Pousa Alado, o sol na água pousa e dele treme a água amedrontada, que a ardente imagem lhe devolve em rosa […]...
Verdade e Mentira Neste livro do mundo Quase perfeito Preto e branco irmanados De igual jeito Quem não foi a tribunal Quem teve […]...
Os Arlequins – Sátira Musa, depõe a lira! Cantos de amor, cantos de glória esquece! Novo assunto aparece Que o gênio move e a […]...
Guerra & Paz Pedidos sacrifícios, as imagens Foram trazidas na maré, enxutas. Treme a escada torpe, e o cão ladra – São os […]...
Baladas Românticas – Branca Vi-te pequena: ias rezando Para a primeira comunhão: Toda de branco, murmurando, Na fronte o véu, rosas na mão. Não […]...
Meu Mal A meu irmão Eu tenho lido em mim, sei-me de cor, Eu sei o nome ao meu estranho mal: Eu […]...
A Laís À ciprina Laís, de quem sou tributário. A Laís que possui compridas tranças pretas, P’lo meu escravo mandei, no seu […]...
Saudade Ter saudade é vaga disforme de um corpo. Ter saudade é pássaro que aparece e se apaga erguido de confusão […]...
Era uma Pedra Feminina Era uma pedra feminina muito perto de uma pedra bem masculina onde a todo o comprimento do mastro batiam os […]...
Jeito de Escrever Não sei que diga. E a quem o dizer? Não sei que pense. Nada jamais soube. Nem de mim, nem […]...
Desce em Folhedos Tenros a Colina Desce em folhedos tenros a colina: Em glaucos, frouxos tons adormecidos, Que saram, frescos, meus olhos ardidos, Nos quais a […]...
Já não Vivi, Só Penso Já não vivo, só penso. E o pensamento é uma teia confusa, complicada, uma renda subtil feita de nada: de […]...
Lisboa No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas Subidas. Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos. Eles […]...
As Cathedraes Como vos amo ver ó cathedraes sosinhas, A recortar o azul das noutes constelladas! Erguidos corucheus, mysticas andorinhas, – Ó […]...
A Mulher Inspiradora Mulher, não és só obra de Deus; os homens vão-te criando eternamente com a formosura dos seus corações, e os […]...