Autor Fernando Namora

Há em todas as coisas a marca estranha da minha presença. Sons, palavras, imagens, tudo eu desfiguro e torno falso. […]

Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher vago e belo e voluptuoso, num bailado erótico, com o […]

Uma casa navega no tempo como um barco subindo o rio Por fim sem marinhagem por fim sem mastreação. Por […]

Eles subiram o monte com o povo arrebanhado e padre-nossos nos lábios. Eles subiram o monte e eram negros, grandiosos […]

Onde ficava o mundo? Só pinhais, matos, charnecas e milho para a fome dos olhos. Para lá da serra, o […]

Onda que vais morrendo em nova onda, mar que vais morrendo noutro mar, assim a minha vida se desprenda e […]

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa. Não importa que hoje seja qualquer coisa triste, um cedro, […]

Foi-se tudo como areia fina escoada pelos dedos. Mãe! aqui me tens, metade de mim, sem saber que metade me […]

A minha poesia é assim como uma vida que vagueia pelo mundo, por todos os caminhos do mundo, desencontrados como […]

Ossos enxutos de repente as mãos sobre o repousado peito entrelaçadas como quem adormeceu à sombra de uma quieta e […]

Hoje o dia é um dia chuvoso e triste amortalhado Naquela monotonia doente dos grandes dias. Hoje o dia… (a […]

No casulo: uma mesa quatro cinco estantes livros por centenas ou milhares tijolos de papel onde as traças acasalam e […]

E os meus olhos rasgarão a noite; E a chuva que vier ferir-me nas vidraças Compreenderá, então, a sua inutilidade; […]

Meu velho burgo dormido meu berço de heras poeira húmida de secos orvalhos minha lembrança de presságios não cumpridos Meu […]

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar e levou o caminho das conchas em mar e […]

Fazer das coisas fracas um poema. Uma árvore está quieta, murcha, desprezada. Mas se o poeta a levanta pelos cabelos […]

António, é preciso partir! o moleiro não fia, a terra é estéril, a arca vazia, o gado minga e se […]

Nem me disseram ainda para o que vim. Se logro ou verdade, se filho amado ou rejeitado. Mas sei que […]

Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma […]

Ténue é o cais no Inverno frio. Ténue é o voo do pássaro cinzento. Ténue é o sono que adormece […]