Poema Retrato do Povo de Lisboa
É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.
Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.
É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.
Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.





Mais poemas:
- Povo Povo que lavas no rio, Que vais às feiras e à tenda, Que talhas com teu machado As tábuas do […]...
- Retrato do Herói Herói é quem num muro branco inscreve O fogo da palavra que o liberta: Sangue do homem novo que diz […]...
- E de Novo, Lisboa E de novo, Lisboa, te remancho, numa deriva de quem tudo olha de viés: esvaído, o boi no gancho, ou […]...
- Auto-retrato Poeta é certo mas de cetineta fulgurante de mais para alguns olhos bom artesão na arte da proveta marciso de […]...
- A de Sempre, Toda Ela Se eu vos disser: “tudo abandonei” É porque ela não é a do meu corpo, Eu nunca me gabei, Não […]...
- Porque o Povo Diz Verdades Porque o povo diz verdades, Tremem de medo os tiranos, Pressentindo a derrocada Da grande prisão sem grades Onde há […]...
- Movimento Se tu és a égua de âmbar eu sou o caminho de sangue Se tu és o primeiro nevão eu […]...
- Retrato do Artista em Cão Jovem Com o focinho entre dois olhos muito grandes por trás de lágrimas maiores este é de todos o teu melhor […]...
- Portwine O Douro é um rio de vinho que tem a foz em Liverpool e em Londres e em Nova-York e […]...
- Obsessão Dentro de mim canta, intenso, Um cantar que não é meu: Cantar que ficou suspenso, Cantar que já se perdeu. […]...
- Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando […]...
- Lisboa De certo, capital alguma n’este mundo Tem mais alegre sol e o ceu mais cavo e fundo, Mais collinas azues, […]...
- Coda Inútil escapar. A presença perdura. Desde que sinto chão ou de verde ou de pedra é teu rastro que encontro […]...
- Balada de Lisboa Em cada esquina te vais Em cada esquina te vejo Esta é a cidade que tem Teu nome escrito no […]...
- Pouco te Ama Na metade do Céu subido ardia O claro, almo Pastor, quando deixavam O verde pasto as cabras, e buscavam A […]...
- Este Retrato Vosso é o Sinal Este retrato vosso é o sinal ao longe do que sois, por desamparo destes olhos de cá, porque um tão […]...
- Somos o Casamento da Noite com o Sangue Meu amor, ao fechar esta porta nocturna peço-te, amor, uma viagem por um escuro recinto: fecha os teus sonhos, entra […]...
- Retrato das Mulheres em Todas as Idades Mulher, de quinze a vinte é fresca rosa; De vinte, a vinte e cinco é de exp’rimenta. De vinte cinco […]...
- Baladas Românticas – Verde Como era verde este caminho! Que calmo o céu! que verde o mar! E, entre festões, de ninho em ninho, […]...
- Pedra de Canto Ainda terás alento e pedra de canto, Mito de Pégaso, patada de sangue da mentira, Para cantar em sílabas ásperas […]...
- Retrato de D. Leonor de Sá Criava-se Leonor, crescendo sempre Em suma perfeição, suma beleza, E crescendo só nela as outras graças Por grandes fermosuras repartidas, […]...
- Cessa o Teu Canto! Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto O ouvi, ouvia Uma outra voz Com que vindo Nos interstícios Do brando […]...
- Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia Eu hontem passei o dia Ouvindo o que o mar dizia. Chorámos, rimos, cantámos. Fallou-me do seu destino, Do seu […]...
- Retrato Pintar o rosto de Márcia Com tal primor determino, Que seja logo seu rosto Pela pinta conhecido. Anda doudo de […]...
- Quão Grande, Meus Amigos Quão grande, meus amigos, não era o Povo em que um Poeta podia dizer isto, sem medo de que o […]...
- Canção porque (não) Morres Este é o último livro, prometia como alguém que tivesse esquecido que assim sempre tinha sido – aquele era o […]...
- Meu País Desgraçado Meu país desgraçado!… E no entanto há Sol a cada canto e não há Mar tão lindo noutro lado. Nem […]...
- Noite Escura Noite escura do amor, em que me deito com teu corpo de luz, eu assombrado deste fantasma de repente alado […]...
- Meu Pai, o que é a Liberdade? – Meu pai, o que é a liberdade? – É o seu rosto, meu filho, o seu jeito de indagar […]...
- Retrato de Amigo Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo meu irmão minha amêndoa meu amigo meu tropel de ternura minha […]...
- Havendo Escapado de uma Grande Doença Foi tão cruel, tão duramente forte A que passei tormenta repetida, Que não fazendo já conta da vida, Só chegava […]...
- Lisboa Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias […]...
- Lisboa No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas Subidas. Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos. Eles […]...
- Lisboa Ó Cidade da Luz! Perpétua fonte De tão nítida e virgem claridade, Que parece ilusão, sendo verdade, Que o sol […]...
- Lisboa Cidade branca semeada de pedras Cidade azul semeada de céu Cidade negra como um beco Cidade desabitada como um armazém […]...
- As Balas Dá o Outono as uvas e o vinho Dos olivais o azeite nos é dado Dá a cama e a […]...
- Desesperança Vai-te na aza negra da desgraça, Pensamento de amor, sombra d’uma hora, Que abracei com delírio, vai-te, embora, Como nuvem […]...
- A um Retrato Amo-te, flor! Se te amo, Deus que o sabe Que o diga a teus irmãos, que o Céu povoam E […]...
- Assim, Sem Nada Feito e o Por Fazer Assim, sem nada feito e o por fazer Mal pensado, ou sonhado sem pensar, Vejo os meus dias nulos decorrer, […]...
- Retrato da Beleza Nova e Pura Retrato da beleza nova e pura Que com divina mão, divino engenho, Amor retratou na alma, onde vos tenho Das […]...