Poema Eu e Tu
Dois! Eu e Tu, num ser indispensável! Como
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,
Aspiram a formar um todo, – em cada assomo
A nossa aspiração mais violenta se ateia…
Como a onda e o vento, a Lua e a noite, o orvalho
[e a selva
– O vento erguendo a vaga, o luar doirando a
[noite,
Ou o orvalho inundando as verduras da relva –
Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te!
Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,
– Nós dois, de amor enchendo a noite do degredo,
Como partes dum todo, em amplexos supremos
Fundindo os corações no ardor que nos inflama,
Para sempre um ao outro, Eu e Tu, pertencemos,
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama…





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